domingo, 12 de fevereiro de 2017

Capítulo 19

Um mês havia se passado. Cristofer ficara, no total, uma semana no castelo. Tempo suficiente para recuperar suas forças. Agradecera ao rei e à rainha pela hospitalidade e pedira desculpas pelo transtorno que causara. Despedira-se da princesa e voltara à sua vida normal. Seus pais não ficaram sabendo do acontecido. Cristofer jamais iria preocupá-los. Apenas dissera que ficou duas semanas longe porque estava em missão especial.
- Então hoje a princesa irá casar-se, não é?
- Ah, sim, pai. O casamento será na praça.
- Você irá?
- Claro, mãe, não perderei isto por nada.
- E Ana Clara? Irá encontrá-la por lá?
- Sim, foi o que combinamos, mãe.
- Não temos mais visto sua namorada, Cris. Quando ela nos visitará novamente?
- Em breve, pai – respondeu o rapaz, distraidamente.
- Que garota adorável! Você tem muita sorte, Cris.
- Obrigado, mãe. A propósito, vocês irão ao casamento?
- Mas é claro! Não perderemos o acontecimento do ano, não é, querido?
- Tem toda razão. Estaremos lá, Cris – disse o homem, animado.
Cristofer e seus pais estavam na praça. Cordas foram esticadas da extremidade até o centro da praça, formando um estreito corredor por onde os noivos andariam até chegar ao altar.
- Conseguirá encontrar Ana no meio desta multidão, Cris?
- Claro, mãe, não se preocupe. Vejam, os noivos estão vindo.
             À medida que os noivos se aproximavam, as expressões nos rostos dos pais de Cristofer foram mudando de alegria para preocupação. Quando os noivos passaram por eles, Cristofer olhou para ambos. Karus era só sorrisos, mas Ana Clara estava com o olhar abatido, infeliz. E ficou mais infeliz quando viu Cristofer olhando diretamente em seus olhos. A garota percebeu que, ao lado de Cristofer, seus pais estavam com expressões de espanto.
 Os pais de Cristofer entreolharam-se, boquiabertos. Era inacreditável que Ana Clara fosse a princesa e agora estava se casando com um príncipe de um reino distante. Embora estivessem presentes no noivado, estavam muito distantes para reconhecer a menina. Mas agora, no casamento, ela passara bem próximo a eles. Quando o pai de Cristofer foi perguntar o que estava acontecendo, reparou que o filho não se encontrava mais ao seu lado.
A cerimônia começou. Um religioso, contratado pelo rei Xavier, palestrava sobre a vida de um casal. O palco onde se encontravam os noivos era enorme. Ali também estava o rei Xavier, a rainha Tamara, o rei Sebastian e, no canto esquerdo, os sete guerreiros negros.
O discurso prosseguiu, cada vez mais enfadonho. Finalmente o homem decidiu fazer o encerramento:
- Se alguém tem alguma coisa contra esta união, fale agora ou cale-se para sempre.
- Eu tenho! – gritou um jovem, vestido de monge, que andava pelo estreito corredor.
Todos olharam na direção do rapaz, que se aproximava tranquilamente. Ao chegar ao palco, o rapaz subiu os degraus e gritou novamente:
- Eu tenho. Sou totalmente contra esta farsa!
- Cris, o que está fazendo? – perguntou a garota, preocupada com a segurança dele. Se antes foi brutalmente castigado, agora seria morto, com certeza.
Cristofer a ignorou. Apenas apontou o dedo na direção do rei Sebastian e seu filho.
- Vocês! Vocês dois não passam de pessoas desprezíveis, que pensam unicamente em si.
Os dois olharam furiosamente na direção de Cristofer, mas fizeram silêncio.
- A princesa Ana Clara está sacrificando sua felicidade a pedido do pai, que teme o rei Sebastian por causa dos seus guerreiros de preto – gritou Cristofer a pleno pulmões. – Ela não gosta do príncipe Karus, sou eu quem ela ama.
As pessoas se olhavam, confusas. Aquele rapaz devia ser louco, alguns comentavam. Outros acreditaram nas palavras de Cristofer, e alguns imaginavam que talvez fosse um espetáculo proporcionado pelo rei para alegrar o casamento. A confusão era grande, mas apenas olhavam para o monge e murmuravam entre si.
- Vocês são dois cretinos, que se acham no direito de manipular a vida dos outros – gritou Cristofer, apontando mais uma vez ao rei Sebastian e seu filho.
O rei Xavier ficou em choque. Aquele rapaz poderia trazer a guerra ao seu reino. Uma guerra que não poderia vencer. Mas antes que dissesse ou fizesse qualquer coisa, ouviu o rei Sebastian se pronunciar:
- Basta! Guerreiros negros, matem esse infeliz.
Os sete homens cercaram Cristofer. Cada um daqueles homens possuía uma arma diferente. O monge, porém, estava desarmado. O primeiro a atacá-lo foi o que usava uma espada. Com técnicas de esquiva fantásticas, o monge evitou a sequência de golpes do adversário. Em instantes desarmou-o, segurando o braço que empunhava a espada e acertando um forte chute em seu queixo. Agora o monge estava armado. O segundo a atacá-lo usava dois nunchakus. Com a espada, Cristofer evitava os golpes facilmente. Acertou, com o lado da espada, os punhos do homem, que deixou cair suas armas. Saltando e girando o corpo com perfeição, nocauteou o adversário com um chute em seu rosto. Dois estavam fora de combate.
Dois guerreiros negros resolveram atacar em conjunto. Um usava uma lança e outro uma corda. Cristofer defendia-se combinando os nunchakus com técnicas de esquiva. Conduziu a luta de uma forma que a corda de um ficou presa na lança do outro. Então o monge chutou a lança com força, fazendo os guerreiros soltarem suas armas. Ao mesmo tempo em que acertava o rosto de um com um dos nunchakus, acertava as pernas do outro com outra arma. Chutou o rosto de um e, com a mesma perna, acertou uma joelhada no rosto do que estava abaixado por causa da dor na perna. O homem caiu no chão, com o joelho do monge em seu rosto.
Vendo a incrível habilidade do monge, os três últimos homens atacaram simultaneamente. Mas o jovem era rápido e habilidoso demais. Enquanto atacava um, esquivava-se de outro e bloqueava os golpes do terceiro oponente. Não precisou muito tempo para que os sete guerreiros negros estivessem no chão, inconscientes.
O rei Sebastian não queria acreditar. Como era possível, aquele garoto conseguiu derrotar seus sete melhores homens? Era um completo absurdo, pensava o homem. Mas tinha acontecido. E agora? O que faria? Tinha que jogar a última cartada. Era sua única chance.
- Como se atreve? Você ousa zombar de mim, moleque? Fique sabendo, rei Xavier, que este rapaz condenou o seu reino. Virei com o meu exército, pode ter certeza.
O rei Xavier nada disse. Parecia pensativo, tentando assimilar melhor os últimos acontecimentos.
- Até parece! – gritou o homem que subia os degraus do palco.
O rei Sebastian olhou, surpreso, para o mestre Ozamu.
- Você quer vir com seu exército? Então venha. Vamos ver o que pode fazer contra um batalhão de centenas de homens iguais a este – falou o mestre, apontando para Cristofer.  – E lhe digo mais: depois dos acontecimentos de hoje, o rei Xavier vai, com certeza, querer financiar uma ampliação em nosso templo. Teremos mais área para treinar e mais homens. Quando você chegar, rei Sebastian, não seremos centenas, mas milhares.
O rei Sebastian mirou um olhar assassino em mestre Ozamu. Mas não tinha palavras para uma resposta. Apenas olhou em volta e reparou que todos, à exceção dele e seu filho, mantinham-se calmos. O rei Xavier parecia até contente. Trocou sorrisos com sua filha, o que deixou o rei Sebastian e o príncipe com mais raiva ainda. A rainha parecia partilhar do sentimento do marido, olhando carinhosamente para a princesa. Era o fim da linha para Sebastian e seu filho.
- Vamos – falou o homem para o seu filho.
A princesa aproximou-se de Cristofer e o beijou apaixonadamente. A multidão aplaudia avidamente. Os malignos rei Sebastian e seu filho Karus haviam sido desmascarados, conhecendo a derrota.
Após o beijo, Ana Clara segurou a mão de Cristofer e aproximou-se de seus pais.
- Eu achei que vocês não se importavam comigo.
- Filha, nós te amamos muito – falou a rainha, tocando no rosto da garota. - Você não imagina o pesadelo que seu pai e eu enfrentamos com toda essa história.
- Mas nunca demonstraram, mãe. Sempre se mostraram frios e calculistas, como se apenas o reino importasse e eu não.
- Agimos assim, querida, porque não queríamos que o seu sofrimento aumentasse. Sua carga já era grande, não poderia ficar maior – disse o rei.
E Ana Clara entendeu. Sua dor seria ainda maior se soubesse do sofrimento de seus pais. Largou a mão de Cristofer e os abraçou com força.
- Mestre, você sabia que eu faria o que fiz hoje? – perguntou Cristofer, aproximando-se de Ozamu.
- Calculei a possibilidade de que tentasse algo, mas não tinha a menor ideia do que pudesse ser.
- Obrigado por me apoiar, senhor.
- Tudo bem. Era o mínimo que eu podia fazer por duvidar de sua integridade.
- Cris – gritou Ana Clara, acenando para ele. - Venha aqui.
Cristofer sorriu para o mestre, que retribuiu. Aproximou-se de Ana Clara.
- Esta foi a coisa mais estranha que já vi em toda a minha vida, mas acho que obrigado é a palavra que mais se enquadra no momento – disse o rei para Cristofer.
- Não há de quê, senhor.
Aproveitando a oportunidade, o rei aproximou-se da beirada do palco.
- Povo de Flor-de-lis, vimos hoje o bem triunfar. Os malignos rei Sebastian e príncipe Karus conheceram o amargo sabor da derrota – disse o rei, apontando para os guerreiros ainda inconscientes, no palco. – Que isso sirva de lição a todos nós. Que sejamos capazes de agir sempre com bondade e justiça, pois os frutos colhidos amanhã serão o resultado do que plantamos hoje.
A multidão aplaudiu mais uma vez. Gritavam o nome do rei, da rainha e da princesa. Também gritavam: “Viva o guerreiro”, pois não sabiam o nome do rapaz que lutara no palco.
Para a alegria de Cristofer, seus pais subiram ao palco e o abraçaram. Nunca o tinham visto lutar, parabenizaram-no por sua habilidade.
O rei, a rainha, a princesa, Cristofer e seus pais deixaram o palco e andaram pelo corredor, recebendo os aplausos da multidão. Atravessaram a praça até chegar à carruagem que os aguardava.
- Minha filha tem sorte de conhecer você, Cristofer. Esperaremos sua visita no castelo, no próximo domingo. Venha almoçar conosco – disse o rei, colocando a mão no ombro do rapaz.
- Obrigado, senhor.
- Nós que agradecemos, Cristofer – falou a rainha, sorrindo. O monge retribuiu o sorriso.
- Finalmente vamos ficar juntos – disse a princesa, beijando-o. Em seguida, entrou na carruagem.

Os reis e a princesa abanaram para Cristofer e seus pais, e a carruagem partiu em direção ao castelo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário