domingo, 12 de fevereiro de 2017

Capítulo 18

Cristofer acordou-se e olhou ao redor. Estava em um grande quarto. Observou que tinha duas portas. Levantou-se e foi a uma delas. Abriu-a e olhou para o sanitário espaçoso que ali se encontrava.
            - Um quarto com sanitário? Devo estar em uma mansão – falou o monge para si mesmo.
            Entrou no sanitário, fez suas necessidades e voltou para a cama. Sentia-se muito cansado e fraco. Deitou-se e logo dormiu.
            Algum tempo depois, o rapaz despertou. Sentia-se um pouco melhor, mas ainda estava com o corpo exausto. Olhou para o quarto enorme. Onde estava? Sentou-se na cama. Havia muito no que pensar. Seu mestre mandara alguém o seguir. Descobrira que ele invadiu o castelo, o que resultou em grave punição. Depois o conduzira à presença do rei. Fora obrigado a mostrar seus ferimentos aos reis Xavier e Sebastian, à rainha Tamara, ao príncipe Karus e, pior ainda, à princesa. 
            Cristofer não sabia, naquele momento, se o que mais doía eram as chibatadas ou a humilhação que sofrera na frente da ex-namorada. Não cometera nenhum crime, apenas falou com Ana. Por que tinha que ser tão severamente punido? Não bastavam as chicotadas? Tinha também que ser humilhado daquela forma?
            De repente, a porta do quarto foi aberta.
            - Ana? – Onde estou?
            A menina aproximou-se, sorriu e tocou no rosto do rapaz.
            - Está em um dos quartos do castelo.
            - No castelo? Mas seus pais...
            - Está tudo bem, Cris – falou a menina, gentilmente. – Convenci meus pais a deixá-lo aqui pelo tempo que fosse necessário.
            - O que aconteceu?
            - Você não se lembra, querido?
            - Não. A última coisa que lembro é ser xingado pelo mestre na frente de seus pais e de você.      
            Ana Clara olhou carinhosamente para Cristofer, que parecia bem confuso. Ele a amava de verdade, pensou a princesa. Arriscara tudo apenas para falar com ela e descobrir o motivo de nunca mais tê-lo visto.         
            - Você desmaiou, Cris. Então eu pedi aos meus pais para trazê-lo para cá e buscar um curandeiro. Ele tratou de você até que ficasse bem.
            - Quanto tempo estou aqui?
            - Quatro dias, Cris. Nos três primeiros, você delirou o tempo todo. Achei que tinha perdido você – falou Ana Clara, abraçando-o.
            Ficaram alguns momentos abraçados, matando a saudade de sentirem seus corpos entrelaçados.
            - Você tem visita, Cris. Há alguém no corredor esperando para vê-lo.
            A garota dirigiu-se à porta. Virou-se e sorriu. Em seguida, saiu do quarto.
            Cristofer empalideceu. No quarto, estava entrando o seu mestre. Não fora castigado o bastante? O que faria agora?
            O homem aproximou-se da cama e reparou a expressão de medo do rapaz.
            - Não tenha receio, Cristofer. Não desejo lhe fazer mal. Queria apenas ver como está.
            Cristofer relaxou.
            - Sinto-me bem, senhor. Apenas fraco e cansado.
            - Fico aliviado. Posso me sentar?
            - Claro, senhor. Por favor.
            O homem sentou-se em uma das cadeiras colocadas próximo à cama, para os momentos em que Cristofer recebesse visitas.
            - Sabe, Cristofer, quando você me contou o que estava acontecendo, lá no templo, eu duvidei. Não conseguia acreditar que você realmente tivesse namorado a princesa. Quando soube que tinha invadido o castelo, achei que havia enlouquecido. Tinha que fazer algo, caso contrário poderíamos sofrer sérias represálias do rei. Assim, decidi que o melhor seria puni-lo, em vez de simplesmente entregá-lo ao rei, que poderia matá-lo.
            “Quando mostrei o seu rosto na sala do trono, percebi o erro que havia cometido. Vi a princesa correndo em sua direção, abraçando-o. Ela estava furiosa comigo, pelo castigo que havia lhe dado. Mas até aí tudo bem. O problema maior ainda estava por vir.
            “Até então, a garota estava apenas furiosa. Porém, ao vê-lo desmaiar, a princesa ficou histérica. Achou que você estava morto. Gritou com todo mundo: comigo, com o príncipe Karus, com o rei Sebastian e com seus pais. A situação foi tão terrível que o rei teve que mandar fechar a porta do castelo. Por fim, a garota ajoelhou-se, abraçou-o chorando e não quis mais largá-lo, até que um curandeiro chegasse.
            “O homem agiu depressa. Solicitou um quarto o mais rápido possível e o levou até lá. Limpou seus ferimentos e administrou vários remédios para combater infecções e febre. Você havia perdido muito sangue, quase morreu.
            “A princesa ficou no quarto quase todo o tempo, recusando-se a falar com qualquer um que se aproximasse, à exceção do curandeiro. O rei Sebastian e o príncipe Karus foram embora, mas acabaram adiando o casamento. Em vez de ocorrer neste domingo, será daqui a um mês.”            
- Então eles ainda vão se casar, mesmo depois de tudo isso?
- Sim. Sinto muito, Cristofer.
- É, eu também sinto. O máximo que pude fazer foi adiar o inevitável.
Ao menos sabia agora que Ana também o amava e estava sofrendo tanto quanto ele com esta terrível situação. Mas isso não bastava. Cristofer descobrira que a felicidade não estava no fato de saber que era querido, mas sentir-se amado. Queria estar com Ana, envolvê-la em seus braços, beijá-la...           
- Bem, imagino que é melhor deixá-lo descansar – falou o mestre, interrompendo os pensamentos de Cristofer.
- Obrigado pela visita, senhor.
- Era o mínimo que podia fazer, Cristofer. Na tentativa de preservar sua vida, quase o matei. Espero que fique bom logo.
- Agradeço a preocupação, senhor.
O mestre balançou afirmativamente a cabeça e saiu do quarto. Momento depois, a princesa entrou com uma bandeja cheia de alimentos.
- Você precisa se alimentar, querido.
Cristofer começou a comer. Devorou os pãezinhos recheados de carne, as duas maçãs e a tigela com arroz temperado. Em seguida, tomou o copo de suco.
Ana Clara ficou olhando o rapaz fazer sua refeição. Ele estava realmente com fome, pensou a garota.
- Quer que eu traga mais alimentos?
- Não, Ana, estou satisfeito, obrigado. Nossa, acho que se eu morasse aqui, engordaria em dois tempos – disse o rapaz, colocando as duas mãos na barriga. A garota sorriu.
- Acho que logo você estará bem – falou a menina, tocando no rosto do monge.

Cristofer também sorriu. Olharam-se fixamente, demonstrando o amor que sentiam um pelo outro.

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