Cristofer acordou-se
e olhou ao redor. Estava em um grande quarto. Observou que tinha duas portas.
Levantou-se e foi a uma delas. Abriu-a e olhou para o sanitário espaçoso que
ali se encontrava.
- Um quarto com sanitário? Devo estar em uma mansão – falou o monge para
si mesmo.
Entrou no sanitário, fez suas
necessidades e voltou para a cama. Sentia-se muito cansado e fraco. Deitou-se e
logo dormiu.
Algum tempo depois, o rapaz
despertou. Sentia-se um pouco melhor, mas ainda estava com o corpo exausto.
Olhou para o quarto enorme. Onde estava? Sentou-se na cama. Havia muito no que
pensar. Seu mestre mandara alguém o seguir. Descobrira que ele invadiu o
castelo, o que resultou em grave punição. Depois o conduzira à presença do rei.
Fora obrigado a mostrar seus ferimentos aos reis Xavier e Sebastian, à rainha
Tamara, ao príncipe Karus e, pior ainda, à princesa.
Cristofer não sabia, naquele
momento, se o que mais doía eram as chibatadas ou a humilhação que sofrera na
frente da ex-namorada. Não cometera nenhum crime, apenas falou com Ana. Por que
tinha que ser tão severamente punido? Não bastavam as chicotadas? Tinha também
que ser humilhado daquela forma?
De repente, a porta do quarto foi
aberta.
- Ana? – Onde estou?
A menina aproximou-se, sorriu e
tocou no rosto do rapaz.
- Está em um dos quartos do
castelo.
- No castelo? Mas seus pais...
- Está tudo bem, Cris – falou a
menina, gentilmente. – Convenci meus pais a deixá-lo aqui pelo tempo que fosse
necessário.
- O que aconteceu?
- Você não se lembra, querido?
- Não. A última coisa que lembro é
ser xingado pelo mestre na frente de seus pais e de você.
Ana Clara olhou carinhosamente para
Cristofer, que parecia bem confuso. Ele a amava de verdade, pensou a princesa.
Arriscara tudo apenas para falar com ela e descobrir o motivo de nunca mais
tê-lo visto.
- Você desmaiou, Cris. Então eu
pedi aos meus pais para trazê-lo para cá e buscar um curandeiro. Ele tratou de
você até que ficasse bem.
- Quanto tempo estou aqui?
- Quatro dias, Cris. Nos três
primeiros, você delirou o tempo todo. Achei que tinha perdido você – falou Ana
Clara, abraçando-o.
Ficaram alguns momentos abraçados,
matando a saudade de sentirem seus corpos entrelaçados.
- Você tem visita, Cris. Há alguém
no corredor esperando para vê-lo.
A garota dirigiu-se à porta.
Virou-se e sorriu. Em seguida, saiu do quarto.
Cristofer empalideceu. No quarto,
estava entrando o seu mestre. Não fora castigado o bastante? O que faria agora?
O homem aproximou-se da cama e
reparou a expressão de medo do rapaz.
- Não tenha receio, Cristofer. Não
desejo lhe fazer mal. Queria apenas ver como está.
Cristofer relaxou.
- Sinto-me bem, senhor. Apenas
fraco e cansado.
- Fico aliviado. Posso me sentar?
- Claro, senhor. Por favor.
O homem sentou-se em uma das
cadeiras colocadas próximo à cama, para os momentos em que Cristofer
recebesse visitas.
- Sabe, Cristofer, quando você me
contou o que estava acontecendo, lá no templo, eu duvidei. Não conseguia acreditar
que você realmente tivesse namorado a princesa. Quando soube que tinha invadido
o castelo, achei que havia enlouquecido. Tinha que fazer algo, caso contrário
poderíamos sofrer sérias represálias do rei. Assim, decidi que o melhor seria
puni-lo, em vez de simplesmente entregá-lo ao rei, que poderia matá-lo.
“Quando mostrei o seu rosto na sala
do trono, percebi o erro que havia cometido. Vi a princesa correndo em sua
direção, abraçando-o. Ela estava furiosa comigo, pelo castigo que havia lhe
dado. Mas até aí tudo bem. O problema maior ainda estava por vir.
“Até então, a garota estava apenas
furiosa. Porém, ao vê-lo desmaiar, a princesa ficou histérica. Achou que você
estava morto. Gritou com todo mundo: comigo, com o príncipe Karus, com o rei
Sebastian e com seus pais. A situação foi tão terrível que o rei teve que
mandar fechar a porta do castelo. Por fim, a garota ajoelhou-se, abraçou-o
chorando e não quis mais largá-lo, até que um curandeiro chegasse.
“O homem agiu depressa. Solicitou
um quarto o mais rápido possível e o levou até lá. Limpou seus ferimentos e
administrou vários remédios para combater infecções e febre. Você havia perdido
muito sangue, quase morreu.
“A princesa ficou no quarto quase
todo o tempo, recusando-se a falar com qualquer um que se aproximasse, à
exceção do curandeiro. O rei Sebastian e o príncipe Karus foram embora, mas
acabaram adiando o casamento. Em vez de ocorrer neste domingo, será daqui a um
mês.”
- Então eles ainda vão se casar, mesmo depois de tudo isso?
- Sim. Sinto muito, Cristofer.
- É, eu também sinto. O máximo que pude fazer foi adiar o inevitável.
Ao menos sabia agora que Ana também o amava e estava sofrendo tanto
quanto ele com esta terrível situação. Mas isso não bastava. Cristofer
descobrira que a felicidade não estava no fato de saber que era querido, mas
sentir-se amado. Queria estar com Ana, envolvê-la em seus braços, beijá-la...
- Bem, imagino que é melhor deixá-lo descansar – falou o mestre, interrompendo
os pensamentos de Cristofer.
- Obrigado pela visita, senhor.
- Era o mínimo que podia fazer, Cristofer. Na tentativa de preservar sua
vida, quase o matei. Espero que fique bom logo.
- Agradeço a preocupação, senhor.
O mestre balançou afirmativamente a cabeça e saiu do quarto. Momento
depois, a princesa entrou com uma bandeja cheia de alimentos.
- Você precisa se alimentar, querido.
Cristofer começou a comer. Devorou os pãezinhos recheados de carne, as
duas maçãs e a tigela com arroz temperado. Em seguida, tomou o copo de suco.
Ana Clara ficou olhando o rapaz fazer sua refeição. Ele estava realmente
com fome, pensou a garota.
- Quer que eu traga mais alimentos?
- Não, Ana, estou satisfeito, obrigado. Nossa, acho que se eu morasse
aqui, engordaria em dois tempos – disse o rapaz, colocando as duas mãos na
barriga. A garota sorriu.
- Acho que logo você estará bem – falou a menina, tocando no rosto do
monge.
Cristofer também sorriu. Olharam-se fixamente, demonstrando o amor que sentiam
um pelo outro.
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