Três dias haviam se
passado desde que o rei, sua amante e o bruxo do reino sumiram, vitimados por
sua maldade e ganância. Renam ajudou Amanda a organizar um Conselho de Diretores,
que estaria encarregado de resolver questões administrativas da cidade. Renam
também sugeriu um diretor-geral, cuja palavra final seria a dele. É claro que
Amanda, mesmo sendo muito nova, poderia assumir o trono, tornando-se rainha do
reino. E talvez até tivesse feito isso se Renam não tivesse lhe dito que sentia
saudades de sua cidade e desejava retornar. A menina disse que o acompanharia,
pois ele agora era sua família.
Para
assegurar que seu lugar sempre lhe pertencesse, a garota elaborou um documento
que foi assinado pelo Conselho Diretor e também pelo diretor-geral, garantindo
a ela o trono no dia em que voltasse ao reino para reclamá-lo.
—
Vamos embora, Renam? — perguntou Amanda, ao entrar no quarto do monge. Sentou
em sua cama, enquanto ele preparava a bagagem.
—
Estou quase pronto, Amanda. Falta apenas ajeitar essas armas e podermos ir.
Renam
silenciou um momento e então perguntou:
—
Você tem certeza do que está fazendo? Aqui poderá ser rainha, ter tudo o que
quiser…
—
Sim. Tudo menos o que o dinheiro pode comprar. Eu não posso pagar com ouro e
prata por uma família, Renam. Você e Karine são tudo o que tenho agora.
As
palavras de Amanda tocaram fundo o coração de Renam. O monge fechou sua mala,
aproximou-se da garota e a abraçou.
—
Há um pequeno tesouro esperando por nós na carruagem que nos levará até seu
reino — comentou Amanda, momentos depois, quando caminhava com Renam pelos
extensos corredores que os conduziram à saída do castelo. — Não passaremos
necessidade. E o dia em que casar, poderei voltar a este reino e reclamar meu
trono, se quiser.
Em
resposta, Renam olhou para a menina e sorriu carinhosamente.
—
Acabei de lembrar de algo — falou a menina, de repente parecendo preocupada. —
O meu irmão não sabia que a pedra era falsa. Entendo que enfeitiçaram a pedra
para enganar o bruxo do meu reino, ao descobrir que Naêmia era uma traidora.
Mas por que você não me contou sobre isso enquanto voltávamos a este castelo
com a armadura? Além disso, o fato de a pedra ser falsa matou o meu irmão. Sei
que ele era cruel ao extremo, mas não havia outra maneira de salvar Karine e
evitar o ritual do guerreiro invencível?
—
Bem, em relação a sua última pergunta, o que posso lhe dizer é que não sabia
que o ritual, realizado com uma pedra falsa, mataria o rei. E quanto à primeira
pergunta, não lhe disse nada sobre o fato de a ametista ser falsa porque tive
receio de estarmos sendo observados, através da bola de cristal, por Jeofrey.
Se eu lhe desse a informação naquele momento, tudo poderia ir por água abaixo.
Amanda
ficou pensativa, mas não parecia triste. Enquanto caminhava ao lado de Renam,
segurava seu braço. Quando chegaram à rua, esperaram por Karine. Tinham
combinado de se encontrar em frente ao castelo e irem juntos ao local onde eram
alugadas as carruagens — bem pertinho do castelo. Em determinado momento, viram
a moça andando em sua direção. Ao chegar ao local onde o guerreiro e a menina a
esperavam, Karine abraçou Renam e o beijou apaixonadamente. Dirigiram-se à
locação de carruagens.
Havia
dois grandes baús, cheios de rubis, safiras, barras de ouro e diamantes
esperando por eles; uma pequena fortuna, que permitiria aos três viver muito
bem pelo resto de suas vidas. Amanda não exagerara quando dissera ao monge que
não passariam necessidades. Feliz por estar com aqueles dois, ficaria com eles,
que seriam seus pais, até que casasse e tivesse seu próprio lar. Aí, duas
coisas poderiam acontecer: voltar ao seu reino e reclamar o trono ou viver no
lugar em que seu futuro marido gostaria. Uma terceira alternativa? Construir
uma casa bem pertinho da residência de Renam e Karine e ficar junto deles para
sempre — idéia que mais a agradava.
Karine
estava muito contente pelo fato de finalmente ter encontrado o amor. Passara
muitos verões de sua vida na solidão e agora se casaria com um jovem que, além
de atraente, era um dos quatro mestres do planeta Kendora. Iria morar em outro
reino e trabalharia com os pais de Renam, que também eram comerciantes. Mas o
que realmente importava, era que finalmente se casaria, realizando seu maior
sonho: construir uma família.
—
Amanda, lembrei-me de algo – falou Renam, quebrando o silêncio. – Eu havia
combinado, com meus companheiros desta aventura, que escreveríamos sobre a
nossa missão em Damaris e publicaríamos um livro. Em respeito à memória de
Joshua, farei isto sozinho. Mas o que quero lhe dizer é que você pode me ajudar
com algumas informações. Por exemplo, na grande casa da área isolada da cidade,
há salas e corredores que parecem novos. Porém, muitas partes da casa parecem
totalmente destruídas. Você saberia explicar por quê?
—
Ah, mas é claro, Renam. Logo que aquela região foi preparada para receber os
prisioneiros, você deve lembrar que ela estava em perfeitas condições de ser
habitada. O mesmo acontecia com a casa. A mansão estava sem nenhum problema,
sem uma única rachadura em suas paredes...
Mas
o jovem guerreiro não conseguiu ouvir o restante da explicação. Enquanto a
carruagem se afastava pela estrada, conduzindo os três passageiros ao reino de
Daran, Renam sentiu uma estranha sensação que desviou sua atenção de Amanda e o
fez olhar para cima: era como se pessoas que o amassem muito estivessem lá no
alto, observando e sorrindo, num gesto de aprovação à felicidade que o monge
finalmente encontrara.
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