Encontro com o rei
Renam e
Amanda chegaram ao final do corredor e entraram no calabouço do castelo por uma
porta secreta. Logo após a fuga de Amanda e seu irmão Cassiano, os únicos
presidiários daquele calabouço, o rei ordenou que as portas fossem destrancadas
porque, sem prisioneiros, não haveria lógica em mantê-las chaveadas. Dessa
forma, Renam e Amanda saíram daquele local sem ser notados. Passaram por várias
salas e corredores, com a menina sempre servindo de guia para o monge. Após uma
longa caminhada pelo imenso castelo, chegaram numa porta que dava acesso à sala
em que o rei permanecia boa parte de seu tempo resolvendo assuntos do reino,
conhecida como a sala do trono. Renam colocou a mão maçaneta, abriu a porta e
entrou na sala em companhia de Amanda.
—
Ora, ora, vejam quem chegou — comentou o rei, com um olhar maldoso.
—
Quero ver Karine — exigiu o monge.
—
Mas é claro. E você, irmãzinha, como vai?
Sem
dar chance a Amanda responder, ordenou que alguns homens que ali se encontravam
se retirassem. Permaneceram apenas o bruxo, alguns guardas e Naêmia. Um
segurança foi designado para trazer Karine. Nesse momento, o rei parecia
distraído, olhando para os lados, não querendo fixar seu olhar em Renam e
Amanda. Renam, por sua vez, mantinha o olhar no rei, mantendo uma expressão tão
ameaçadora que chegava a assustar Amanda. A garota não conseguia imaginar como
um homem gentil como Renam era capaz de um olhar tão gelado, que arrepiava seus
cabelos.
Após
certo tempo de espera, dois seguranças acompanhavam Karine. A expressão de ódio
de Renam não suavizou.
—
Você foi bem tratada, Karine? Fizeram alguma coisa para você?
—
Estou bem, Renam, obrigada. Apenas tive receio que você não conseguisse
retornar.
—
Como pode ver, rapaz, cumpri minha palavra. A moça está bem. Agora quero que me
entregue a armadura.
Numa
última e desesperada tentativa, Amanda implorou a Renam:
—
Não entregue a ele, Renam. Se fizer isso, meu irmão se tornará invencível.
—
Você sabe que não tenho escolha, Amanda. Não posso arriscar a vida de Karine.
—
Mas pretende salvar uma pessoa e condenar todas as outras?
Renam
não respondeu. Apenas ergueu a Armadura de Prata e a ofereceu a um dos guardas
que se aproximou. O homem a entregou ao rei, que por sua vez chamou o bruxo do
reino.
—
Jeofrey, é a armadura verdadeira?
O
bruxo aproximou-se, tocou na armadura e se concentrou.
—
Sinto poderosas energias místicas
—
Muito bem, então. Que comecemos o ritual que me tornará o maior de todos os
guerreiros.
—
E Karine? — perguntou o monge, observando que os guardas ainda a ameaçavam com
espadas.
—
Será liberta assim que o ritual terminar.
O
rei vestiu a armadura e o bruxo abriu o Tomo Negro, localizando as páginas onde
constavam as instruções para o ritual. O mago ergueu a Ametista Mágica com a
mão direita, enquanto lia as palavras místicas. Logo que o bruxo iniciou a
leitura, feixes poderosos de energia começaram a emanar da armadura. Embora os
raios fossem inofensivos às pessoas, Amanda estava amedrontada pelo incrível
efeito de luzes. Segurou com força o braço de Renam, que mantinha-se imóvel,
dirigindo um olhar venenoso ao rei e ao bruxo. De repente, saiu um fino raio
amarelo da ametista, atravessando o teto sem danificá-lo. Naquele momento, o
bruxo colocou a pedra no orifício da armadura — exatamente no centro do peito —
e todos aqueles raios de energia sumiram. O rei começou a gargalhar:
—
Ah, ah, ah, isso é maravilhoso. Sinto as poderosas energias desta armadura.
Levantou
os braços, admirando-os como se fossem armas de incrível poder.
—
Fantástico, realmente fantástico…
Em
seguida, o rei se calou. Fez uma careta e o que falou surpreendeu o bruxo e
Naêmia:
—
Estou me sentindo estranho. Acho que estou doente.
Naêmia
foi a próxima pessoa a manifestar preocupações:
— Querido, você está
muito pálido!
Todos
os olhares agora estavam atentos ao rei que, em determinado momento, deu um
grito.
—
Eu estou sumindo!
E
realmente estava. Pouco a pouco, o corpo do rei se tornava transparente.
Gritando em agonia, caiu no chão de joelhos, tremendo. Naêmia e o bruxo se
ajoelharam ao lado do rei, numa tentativa de o ajudarem a ficar em pé. Ao
tocarem no rei, Naêmia dirigiu um olhar de puro terror a Renam. Tanto ela
quanto o bruxo não conseguiram soltar as mãos dos braços do rei e também
começaram a ficar transparentes. Em poucos momentos, restaram apenas a armadura
e as roupas daquelas três pessoas. O rei e seus fiéis auxiliares estavam
mortos.
—
Acabou — falou Renam para Amanda, seu rosto agora adquirindo uma expressão
tranqüila.
A
menina se abraçou no monge e começou a soluçar. Renam dirigiu um olhar triste a
Karine, enquanto tocava nos cabelos de Amanda carinhosamente. Renam sabia que a
dor da menina era grande, pois, embora fosse cruel, o homem que acabara de
morrer era seu irmão. Ajoelhou-se em frente a Amanda e falou com o tom de voz
mais gentil que pôde:
—
Querida, agora você deve ser forte. Não gostaríamos que as coisas acontecessem
dessa maneira, mas nem sempre temos escolha. Eu nunca te deixarei, mas você
deve ter em mente que é a última sobrevivente da família Real e, portanto,
rainha deste reino.
Uma
súbita compreensão tomou conta de Amanda: seus pais estavam mortos, seu irmão
mais velho desaparecido, um de seus irmãos foi assassinado e o último parente
que tinha acabara de morrer. Agora o reino de Damaris era seu. Seria ela, com
apenas doze verões, a rainha de uma cidade enorme como aquela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário