domingo, 12 de fevereiro de 2017

Capítulo 20

Encontro com o rei

Renam e Amanda chegaram ao final do corredor e entraram no calabouço do castelo por uma porta secreta. Logo após a fuga de Amanda e seu irmão Cassiano, os únicos presidiários daquele calabouço, o rei ordenou que as portas fossem destrancadas porque, sem prisioneiros, não haveria lógica em mantê-las chaveadas. Dessa forma, Renam e Amanda saíram daquele local sem ser notados. Passaram por várias salas e corredores, com a menina sempre servindo de guia para o monge. Após uma longa caminhada pelo imenso castelo, chegaram numa porta que dava acesso à sala em que o rei permanecia boa parte de seu tempo resolvendo assuntos do reino, conhecida como a sala do trono. Renam colocou a mão maçaneta, abriu a porta e entrou na sala em companhia de Amanda.
            — Ora, ora, vejam quem chegou — comentou o rei, com um olhar maldoso.
            — Quero ver Karine — exigiu o monge.
            — Mas é claro. E você, irmãzinha, como vai?
            Sem dar chance a Amanda responder, ordenou que alguns homens que ali se encontravam se retirassem. Permaneceram apenas o bruxo, alguns guardas e Naêmia. Um segurança foi designado para trazer Karine. Nesse momento, o rei parecia distraído, olhando para os lados, não querendo fixar seu olhar em Renam e Amanda. Renam, por sua vez, mantinha o olhar no rei, mantendo uma expressão tão ameaçadora que chegava a assustar Amanda. A garota não conseguia imaginar como um homem gentil como Renam era capaz de um olhar tão gelado, que arrepiava seus cabelos.
            Após certo tempo de espera, dois seguranças acompanhavam Karine. A expressão de ódio de Renam não suavizou.
            — Você foi bem tratada, Karine? Fizeram alguma coisa para você?
            — Estou bem, Renam, obrigada. Apenas tive receio que você não conseguisse retornar.
            — Como pode ver, rapaz, cumpri minha palavra. A moça está bem. Agora quero que me entregue a armadura.
            Numa última e desesperada tentativa, Amanda implorou a Renam:
            — Não entregue a ele, Renam. Se fizer isso, meu irmão se tornará invencível.
            — Você sabe que não tenho escolha, Amanda. Não posso arriscar a vida de Karine.
            — Mas pretende salvar uma pessoa e condenar todas as outras?
            Renam não respondeu. Apenas ergueu a Armadura de Prata e a ofereceu a um dos guardas que se aproximou. O homem a entregou ao rei, que por sua vez chamou o bruxo do reino.
            — Jeofrey, é a armadura verdadeira?
            O bruxo aproximou-se, tocou na armadura e se concentrou.
            — Sinto poderosas energias místicas
            — Muito bem, então. Que comecemos o ritual que me tornará o maior de todos os guerreiros.
            — E Karine? — perguntou o monge, observando que os guardas ainda a ameaçavam com espadas.
            — Será liberta assim que o ritual terminar.
            O rei vestiu a armadura e o bruxo abriu o Tomo Negro, localizando as páginas onde constavam as instruções para o ritual. O mago ergueu a Ametista Mágica com a mão direita, enquanto lia as palavras místicas. Logo que o bruxo iniciou a leitura, feixes poderosos de energia começaram a emanar da armadura. Embora os raios fossem inofensivos às pessoas, Amanda estava amedrontada pelo incrível efeito de luzes. Segurou com força o braço de Renam, que mantinha-se imóvel, dirigindo um olhar venenoso ao rei e ao bruxo. De repente, saiu um fino raio amarelo da ametista, atravessando o teto sem danificá-lo. Naquele momento, o bruxo colocou a pedra no orifício da armadura — exatamente no centro do peito — e todos aqueles raios de energia sumiram. O rei começou a gargalhar:
            — Ah, ah, ah, isso é maravilhoso. Sinto as poderosas energias desta armadura.
            Levantou os braços, admirando-os como se fossem armas de incrível poder.
            — Fantástico, realmente fantástico…
            Em seguida, o rei se calou. Fez uma careta e o que falou surpreendeu o bruxo e Naêmia:
            — Estou me sentindo estranho. Acho que estou doente.
            Naêmia foi a próxima pessoa a manifestar preocupações:
            — Querido, você está muito pálido!
            Todos os olhares agora estavam atentos ao rei que, em determinado momento, deu um grito.
            — Eu estou sumindo!
            E realmente estava. Pouco a pouco, o corpo do rei se tornava transparente. Gritando em agonia, caiu no chão de joelhos, tremendo. Naêmia e o bruxo se ajoelharam ao lado do rei, numa tentativa de o ajudarem a ficar em pé. Ao tocarem no rei, Naêmia dirigiu um olhar de puro terror a Renam. Tanto ela quanto o bruxo não conseguiram soltar as mãos dos braços do rei e também começaram a ficar transparentes. Em poucos momentos, restaram apenas a armadura e as roupas daquelas três pessoas. O rei e seus fiéis auxiliares estavam mortos.
            — Acabou — falou Renam para Amanda, seu rosto agora adquirindo uma expressão tranqüila.
            A menina se abraçou no monge e começou a soluçar. Renam dirigiu um olhar triste a Karine, enquanto tocava nos cabelos de Amanda carinhosamente. Renam sabia que a dor da menina era grande, pois, embora fosse cruel, o homem que acabara de morrer era seu irmão. Ajoelhou-se em frente a Amanda e falou com o tom de voz mais gentil que pôde:
            — Querida, agora você deve ser forte. Não gostaríamos que as coisas acontecessem dessa maneira, mas nem sempre temos escolha. Eu nunca te deixarei, mas você deve ter em mente que é a última sobrevivente da família Real e, portanto, rainha deste reino.

            Uma súbita compreensão tomou conta de Amanda: seus pais estavam mortos, seu irmão mais velho desaparecido, um de seus irmãos foi assassinado e o último parente que tinha acabara de morrer. Agora o reino de Damaris era seu. Seria ela, com apenas doze verões, a rainha de uma cidade enorme como aquela.

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