domingo, 12 de fevereiro de 2017

Capítulo 12

Cristofer havia verificado quase todas as salas do terceiro piso. Evitara com maestria os soldados que circulavam por ali, fazendo a ronda noturna. A sorte também o ajudara: às vezes eram as vozes, outras vezes eram os passos pesados de alguém que o alertavam, dando-lhe tempo para que entrasse rapidamente em um corredor ou se escondesse em uma sala. Teria terminado de verificar todo o pavimento se não precisasse evitar os vigias.
            O rapaz sabia que a lua já se posicionava alta no céu, indicando que a quarta parte da noite se fora. Mas e se não conseguisse alcançar o seu objetivo naquela noite? Mesmo que despistasse os guardas, saindo ileso do castelo, o rei iria ficar sabendo que alguém se aventurara em sua morada à noite, pois deixara três guardas amarrados e amordaçados na sala onde havia centenas de uniformes do exército. Dessa maneira, o rei providenciaria um substancial reforço na segurança, impedindo que tal fato voltasse a acontecer. Não era só uma questão de habilidade; o elemento sorte também estava pesando alto na aventura do monge.
Cristofer aproximou-se do último corredor a ser verificado. Observou que apenas apresentava uma porta ao final. Ao abri-la, o monge observou, com espanto, a enorme mesa circular. Havia cerca de trinta cadeiras a sua volta. Porém, o que mais chamou a atenção de Cristofer não foi o tamanho da mesa ou a quantidade de cadeiras. O que deixou o monge surpreso foi a quantidade de portas – 20 no total.
            Estava claro que aquela era uma sala de reuniões. Mas para que tantas portas? Cristofer abriu a primeira porta e olhou para o corredor que ali tinha início. Abriu a segunda, que mostrava outro corredor. Abriu a terceira, a quarta, a quinta... O rapaz constatou que por trás de todas as portas daquela sala havia um corredor. Mas qual seria o objetivo disso?
            Cristofer logo deduziu o porquê de tantas portas naquela sala. Era simples e, ao mesmo tempo, genial: a grande mesa e as muitas cadeiras sugeriam, como pensara antes, que ali era um ambiente de reuniões. Os corredores deviam dar acesso aos mais importantes locais do castelo, facilitando a chegada das pessoas à sala em situações de emergência. Ao concluir seu raciocínio, o monge percebeu que o rei poderia até ser extravagante, mas também sabia ser criativo e prático.
           O monge abriu a primeira porta à esquerda. Iniciou sua caminhada pelo extenso corredor, que apresentava trechos retos, curvos e sinuosos. Finalmente encontrou uma porta. Abriu-a lentamente, constatando que não havia ninguém por perto. Entrou na sala, identificando-a imediatamente: a grande escrivaninha no centro, os diferentes tipos de armários e os vários arquivos deixavam claro que ali era o escritório do rei. Quando não estava resolvendo os problemas do reino, na sala do trono, devia estar neste ambiente, trabalhando em seus projetos, pensou o guerreiro.
           Cristofer começou a andar em direção a outra porta. Porém, antes de alcançá-la, parou. Ouviu vozes que, a cada instante, ficavam mais altas. Não havia dúvidas de que alguém estava se aproximando. Seria tolice seguir em frente, pois não tinha como saber quem ou quantos enfrentaria; possivelmente seria uma total perda de tempo voltar à sala de reuniões e tentar a segunda porta, considerando que, provavelmente, teria que retornar a este local por não ter ido até o fim.
           - Rapaz, amanhã estarei de folga. Vou aproveitar e ir ao baile. Aos domingos, ao anoitecer, está sempre cheio de gente – comentou o segurança aos companheiros, enquanto abria a porta do escritório real.
           - Que sorte a sua, Aguinaldo. Nem consigo recordar quando tive folga em um fim de semana – falou Gregório, levantando um coro de concordância.
           - Eu tenho que aguentar quieto a cara feia que a minha mulher faz quando digo a ela que não consegui ainda folga para o fim de semana – disse Gilberto, arrancando gargalhadas dos colegas.
           - O castelo é enorme e precisa de muitos guardas. Fica difícil elaborar uma escala de folga que agrade a todos.
           - Essa aí é mais velha que minha avó, Godofredo. Você não tem uma desculpa mais original para justificar a nossa falta de sorte? – indagou Juvêncio, enquanto abria a porta que os conduzia ao corredor.
           - Falta de sorte? Rapaz, você sabe mesmo como suavizar uma expressão. Nós somos é um bando de desgraçados...
- Não seja tão dramático, Kalau. Pelo menos temos um emprego e um salário que não é muito pequeno. Temos onde morar, podemos nos alimentar e vestir bem...
            - Falou Jacir, o eterno otimista. Sabe, rapaz, sua casa pode pegar fogo e, ainda assim, você descobrirá algo positivo na situação... – comentou Gilberto, fazendo os colegas rirem mais uma vez.

            Quando o último homem sumiu de vista no corredor, Cristofer afrouxou as pernas, projetando-se para o chão. Quando os homens saíram do escritório do rei e entraram no corredor, passaram por baixo do monge. Aproveitando que o corredor era estreito, Cristofer saltou e abriu quase totalmente suas pernas, fixando seus pés nas paredes do corredor, posicionando-se acima da porta. Graças a sua tática, evitara os guardas e também a ideia de ter que retornar a este lugar em outra ocasião, evitando perder um tempo valioso. Agora bastava seguir em frente, em sua busca alucinada por respostas.             

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