Cristofer havia
verificado quase todas as salas do terceiro piso. Evitara com maestria os soldados
que circulavam por ali, fazendo a ronda noturna. A sorte também o ajudara: às
vezes eram as vozes, outras vezes eram os passos pesados de alguém que o
alertavam, dando-lhe tempo para que entrasse rapidamente em um corredor ou se
escondesse em uma sala. Teria terminado de verificar todo o pavimento se não
precisasse evitar os vigias.
O rapaz sabia que a lua já se posicionava
alta no céu, indicando que a quarta parte da noite se fora. Mas e se não
conseguisse alcançar o seu objetivo naquela noite? Mesmo que despistasse os
guardas, saindo ileso do castelo, o rei iria ficar sabendo que alguém se
aventurara em sua morada à noite, pois deixara três guardas amarrados e
amordaçados na sala onde havia centenas de uniformes do exército. Dessa
maneira, o rei providenciaria um substancial reforço na segurança, impedindo
que tal fato voltasse a acontecer. Não era só uma questão de habilidade; o
elemento sorte também estava pesando alto na aventura do monge.
Cristofer aproximou-se do último corredor a ser verificado. Observou que
apenas apresentava uma porta ao final. Ao abri-la, o monge observou, com
espanto, a enorme mesa circular. Havia cerca de trinta cadeiras a sua volta.
Porém, o que mais chamou a atenção de Cristofer não foi o tamanho da mesa ou a
quantidade de cadeiras. O que deixou o monge surpreso foi a quantidade de
portas – 20 no total.
Estava claro que aquela era uma sala
de reuniões. Mas para que tantas portas? Cristofer abriu a primeira porta e
olhou para o corredor que ali tinha início. Abriu a segunda, que mostrava outro
corredor. Abriu a terceira, a quarta, a quinta... O rapaz constatou que por
trás de todas as portas daquela sala havia um corredor. Mas qual seria o
objetivo disso?
Cristofer logo deduziu o porquê de
tantas portas naquela sala. Era simples e, ao mesmo tempo, genial: a grande
mesa e as muitas cadeiras sugeriam, como pensara antes, que ali era um ambiente
de reuniões. Os corredores deviam dar acesso aos mais importantes locais do
castelo, facilitando a chegada das pessoas à sala em situações de emergência.
Ao concluir seu raciocínio, o monge percebeu que o rei poderia até ser
extravagante, mas também sabia ser criativo e prático.
O monge abriu a primeira porta à
esquerda. Iniciou sua caminhada pelo extenso corredor, que apresentava trechos
retos, curvos e sinuosos. Finalmente encontrou uma porta. Abriu-a lentamente,
constatando que não havia ninguém por perto. Entrou na sala, identificando-a
imediatamente: a grande escrivaninha no centro, os diferentes tipos de armários
e os vários arquivos deixavam claro que ali era o escritório do rei. Quando não
estava resolvendo os problemas do reino, na sala do trono, devia estar neste
ambiente, trabalhando em seus projetos, pensou o guerreiro.
Cristofer começou a andar em direção
a outra porta. Porém, antes de alcançá-la, parou. Ouviu vozes que, a cada
instante, ficavam mais altas. Não havia dúvidas de que alguém estava se
aproximando. Seria tolice seguir em frente, pois não tinha como saber quem ou
quantos enfrentaria; possivelmente seria uma total perda de tempo voltar à sala
de reuniões e tentar a segunda porta, considerando que, provavelmente, teria
que retornar a este local por não ter ido até o fim.
- Rapaz, amanhã estarei de folga.
Vou aproveitar e ir ao baile. Aos domingos, ao anoitecer, está sempre cheio de
gente – comentou o segurança aos companheiros, enquanto abria a porta do
escritório real.
- Que sorte a sua, Aguinaldo. Nem
consigo recordar quando tive folga em um fim de semana – falou Gregório,
levantando um coro de concordância.
- Eu tenho que aguentar quieto a
cara feia que a minha mulher faz quando digo a ela que não consegui ainda folga
para o fim de semana – disse Gilberto, arrancando gargalhadas dos colegas.
- O castelo é enorme e precisa de
muitos guardas. Fica difícil elaborar uma escala de folga que agrade a todos.
- Essa aí é mais velha que minha
avó, Godofredo. Você não tem uma desculpa mais original para justificar a nossa
falta de sorte? – indagou Juvêncio, enquanto abria a porta que os conduzia ao
corredor.
- Falta de sorte? Rapaz, você sabe
mesmo como suavizar uma expressão. Nós somos é um bando de desgraçados...
- Não seja tão dramático, Kalau. Pelo menos temos um emprego e um salário
que não é muito pequeno. Temos onde morar, podemos nos alimentar e vestir
bem...
- Falou Jacir, o eterno otimista.
Sabe, rapaz, sua casa pode pegar fogo e, ainda assim, você descobrirá algo
positivo na situação... – comentou Gilberto, fazendo os colegas rirem mais uma
vez.
Quando o último homem sumiu de
vista no corredor, Cristofer afrouxou as pernas, projetando-se para o chão.
Quando os homens saíram do escritório do rei e entraram no corredor, passaram
por baixo do monge. Aproveitando que o corredor era estreito, Cristofer saltou
e abriu quase totalmente suas pernas, fixando seus pés nas paredes do corredor,
posicionando-se acima da porta. Graças a sua tática, evitara os guardas e
também a ideia de ter que retornar a este lugar em outra ocasião, evitando
perder um tempo valioso. Agora bastava seguir em frente, em sua busca alucinada
por respostas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário