domingo, 12 de fevereiro de 2017

Capítulo 13

- Está muito tarde. É melhor nos recolhermos – disse o rei Xavier.
            - Princesa, eu a acompanharei até o seu aposento – falou Karus, erguendo um pouco o seu braço esquerdo para que Ana Clara o segurasse.
            O casal dirigiu-se para o quarto da princesa. Seguiram pelo corredor central em direção a uma sala onde havia uma escada que os conduziria ao pavimento inferior.
            Você não gosta muito de escadas, não é, Ana?
            - Ah, você reparou. É, acho cansativo ficar subindo e descendo escadas. Mas como descobriu esse meu... desconforto?
            - Simples: seu quarto fica no primeiro piso do castelo. Que outro motivo a levaria escolher um quarto neste pavimento?
            - Tem razão.
            A princesa apenas concordou e ficou em silêncio. Karus percebeu que a conversa que estava tendo com a menina se resumia em um conjunto de perguntas e respostas. Ele perguntava, ela respondia. A garota nunca comentava nada por vontade própria. A menina era bonita. Era linda, pensava Karus. Mas sua frieza era igualmente notável, o que prejudicava sua bela aparência. Porém, não iria desistir. Precisava apenas de algum tempo para conquistá-la.
            - Esse castelo é enorme. Nunca havia visto um tão grande assim – falou o príncipe, após caminhar um bom trecho pelo corredor principal.                   
            - Meu pai ampliou a nossa casa quando conseguiu conquistar outros reinos. Ele acredita que o homem é representado por sua morada.
            - Isso significa o quê?
            - Significa que se a casa de alguém é grande e luxuosa, então trata-se de uma pessoa de grande poder e respeito.
            - Você concorda com essa ideia, Ana?
            A princesa parou de caminhar e ficou olhando fixamente para Karus.                            Naquele momento, lembrou-se da casa e dos pais de Cristofer. O ex-namorado e seus pais eram pessoas maravilhosas. Cristofer era um exímio lutador. Entretanto, moravam na casa mais humilde onde já colocara os pés. Preferia morar naquela casa com Cristofer a morar num castelo com Karus.
            - Não – respondeu a garota e continuou caminhando, fazendo com que o príncipe tivesse que apurar o passo para alcançá-la.
            “Além de fria é doida” pensou o rapaz, frustrado com a ideia de sentir-se rejeitado pela princesa.
            Ambos prosseguiram em silêncio até o quarto da garota.
            - Bem, é melhor deixá-la descansar. Tenha uma boa-noite, Ana - falou o príncipe.
            - Boa-noite para você também, Karus – disse a princesa, fechando a porta de seu quarto logo em seguida.
            Ana Clara cruzou as mãos atrás, apoiou suas costas na porta e suspirou profundamente. Que droga seus pais estavam fazendo da sua vida? Que direito tinham eles de escolher seu futuro marido? “Você é uma princesa, tem um grande compromisso com o reino” dissera o seu pai, ao tentar justificar, durante um jantar, o relacionamento forçado. Se tivesse nascido plebeia, não estaria nesta situação incômoda. Talvez não houvesse a necessidade de nascer plebeia. Não se considerasse que sua situação não seria tão desagradável se não tivesse conhecido Cristofer. Cristofer... Pensar no rapaz agora causava uma sensação horrível em Ana Clara. A menina sentia como se uma parte de si tivesse morrido, desde que soubera que se casaria com o príncipe Karus e não com quem escolhera para dividir sua vida consigo. Tantas coisas boas tivera com aquele rapaz agradável, tantas risadas e brincadeiras...
            Estava tudo acabado. O rei Sebastian e o príncipe Karus a afastaram de seu verdadeiro amor, destruindo sua felicidade. Não poderia mais ver Cristofer. Nem mesmo uma última vez. Ele saíra de sua vida. Não, ele fora tirado de seu caminho. O príncipe e seu pai haviam se encarregado de tal tarefa.
            Sentindo as lágrimas rolarem por sua face, acompanhadas de uma tristeza que não poderia descrever, Ana Clara distanciou-se da porta e caminhou em direção a sua cama. Sentou-se e olhou ao redor: apenas o seu quarto era maior que a casa toda de Cristofer. Desde que começara a namorá-lo, ele evitara levá-la em sua casa. A princesa sabia o motivo. Dera a entender, desde o primeiro encontro, que era muito rica. Apenas não dissera que era filha do rei. Assim como o rapaz tinha receio de ser rejeitado por sua pobreza, Ana Clara temia que ele não a quisesse mais ao saber que era a princesa do reino. Por tais motivos, ambos adiaram ao máximo o momento em que um visitaria a casa do outro.
            Ana Clara deitou-se, tentando entender a ganância e a maldade no coração dos homens. Seu pai, o conquistador, havia sido conquistado. Sentia medo do rei Sebastian e de seus guerreiros negros. E o homem trouxera apenas um pequeno grupo de seus soldados. Que artimanhas teria imaginado para mostrar ao poderoso rei Xavier que ele não era invencível, de maneira a fazê-lo concordar com a ridícula ideia de casamento sem amor, não se importando em destruir a vida da própria filha? E sua mãe também concordara. Ana Clara jamais imaginara que seus pais pudessem ser capazes de tal atitude. Será que não a amavam?
            A garota imaginou que alguma coisa precisava ser feita, mas não tinha ideia do que poderia ser. Recusar-se a casar? Não, seus pais jamais aceitariam. Começar a tratar Karus mal, com o objetivo de fazê-lo desiludir-se? Poderia funcionar, mas, se não desse certo, o rapaz iria vingar-se depois do casamento. Fugir e esconder-se? Neste caso, para onde iria? Se fizesse isso, seus pais enlouqueceriam. Certamente que mandariam centenas de soldados fazerem uma varredura em todo o reino, revistando casa por casa.
            A princesa suspirou mais uma vez. Não havia nada que pudesse fazer. Deveria aceitar o seu destino, ciente que de que qualquer tentativa contrária poderia resultar em tragédia. De repente, a garota sentiu-se um pouco pior. Até aqui, tinha pensado apenas em si. “Como sou egoísta. E Cristofer, o quanto deve estar sofrendo?” questionou-se a menina, em pensamento. Sim, Cristofer também a amava e estava pagando o preço da ousadia do rei Sebastian e do príncipe Karus. Onde estaria o rapaz agora? Como estaria lidando com sua dor?

            A princesa sentiu-se como se fosse um poço de perguntas, mas sem uma única resposta. Não tinha ideia do porquê estava sofrendo desse jeito. Não sabia o que fazer, a quem recorrer, aonde ir. Todas as portas da felicidade pareciam estar fechadas a sete chaves. Com o olhar vazio, mirando o infinito, a princesa finalmente entregou-se ao mundo dos sonhos.

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