Cristofer havia
passado por uma quantidade absurda de salas. A noite havia avançado e o monge,
embora sempre em movimento, estava longe de conseguir esquadrinhar totalmente a
residência do rei. Ainda tinha algum tempo até que amanhecesse. Antes que a luz
do sol chegasse, o guerreiro sairia do castelo e iria para sua casa, aproveitar
o dia de folga para descansar. Se não tivesse êxito em sua missão hoje, faria
outra tentativa no próximo sábado.
Mas e se na próxima vez fosse tarde demais? E se Ana Clara viajasse, nos
próximos dias, para o reino do príncipe com quem iria se casar? Não, não
poderia pensar em tais coisas. Tinha objetivos a alcançar, era necessário
manter o foco. Não iria perder as esperanças.
O rapaz estacou. Passos. Alguém, acompanhado
por mais pessoas, vinha em sua direção. Sem perder tempo, Cristofer abriu a
primeira porta que encontrou e entrou rapidamente na sala, sem se preocupar em
verificar se estava ocupada ou não. Como se encontrava ao final de um estreito
corredor, sabia que, se ficasse ali, o confronto seria inevitável. Assim,
entrou na sala sem preocupações. Ao menos em uma sala teria mais espaço para
lutar. Mas a sala estava deserta, ao menos de pessoas. Alguns móveis estavam
espalhados pelo local de maneira aleatória. A sala não parecia fazer muito
sentido. Cristofer abriu as porta de um armário enorme, completamente vazio.
Aquele era um esconderijo perfeito. Se os homens o encontrassem ali, então os
enfrentaria. Caso contrário, apenas esperaria que deixassem o local para que
pudesse continuar suas investigações. Pelas pequenas frestas das portas do
armário, o monge observou os homens entrarem na sala. Eram seis, no total.
- Qual é a situação, Adamastor?
- Temos que esperar o chefe. Parece
que algo importante está acontecendo hoje.
- Você tem ideia do que seja?
- Infelizmente não, Adelir. Mas o chefe
disse que se reuniria rapidamente com o capitão e nos encontraria aqui para
maiores informações.
Algum tempo depois, a porta da sala
foi aberta mais uma vez.
- Chefe, quais são as novas?
- O rei está furioso, rapazes –
disse o homem, preocupado. – Parece que alguém está se aventurando no castelo
- O quê? Está de brincadeira,
chefe?
- Não, Lindomar, não estou. Alguns
soldados foram encontrados amarrados e amordaçados na sala de uniformes.
Disseram que enfrentaram um exímio lutador, totalmente vestido de preto. Tal
guerreiro os derrotou com facilidade incrível e os aprisionou na sala de
uniformes.
- Um guerreiro totalmente vestido
de preto? Será que não...
- Sei o que está pensando, Dagoberto.
Mas não é um daqueles guerreiros do outro reino.
- E como tem certeza, chefe?
- Porque o rei Xavier logo foi
acordado, ao descobrirmos os soldados amarrados. Ao saber do guerreiro de preto,
o rei Xavier acordou o rei Sebastian e ambos foram verificar a situação. Todos
os guerreiros do rei Sebastian estão no quarto onde deveriam passar a noite.
Nenhum deles saiu, conforme falaram os seguranças que estavam próximos ao
quarto.
- Mas então quem será o louco que
está andando por aí?
- Quem quer que seja, Lindomar, despertou a
ira do rei Xavier. O homem está furioso com o “turista noturno”, pois o está
deixando em maus lençóis com o rei Sebastian.
- Como assim, chefe?
- Você não é muito inteligente, não
é, Lindomar?
- Não, senhor, eu não sou.
- Pelo menos é sincero – disse o
chefe com um suspiro. – Ao realizar a sua excursão, o nosso misterioso
visitante está zombando do poder do rei Xavier. Consequentemente, sua imagem
está prejudicada diante do rei Sebastian. Afinal, que tipo de rei é desafiado
desse jeito? Talvez aquele rei que não saiba impor respeito em seus súditos...
- Ah, entendi...
- Seja como for, o rei Xavier está preocupado
com a segurança da filha e do príncipe Karus. Mandou colocar quatro guardas em
frente à porta de cada um dos dois quartos.
- Chefe, os guardas amarrados foram
os únicos a ter contato com o visitante?
- É, eu ia chegar neste ponto,
Dagoberto. O guerreiro de preto foi avistado no sexto andar, indo em direção à
sala que dava acesso ao nosso andar. Isso não faz muito tempo.
- Neste caso a princesa está
segura, considerando que o quarto dela é no primeiro pavimento do castelo e o
guerreiro se encontra talvez neste pavimento, onde já sabemos de sua existência
e estamos nos concentrando em sua captura.
- Eu não teria dito de melhor
maneira, Dagoberto. Meu objetivo aqui é pedir a vocês para alertarem todos os
seguranças deste pavimento. Eu seguirei para o próximo andar e transmitirei a
mesma mensagem, a pedido do capitão.
Um ruído chamou a atenção dos
homens. Olharam para o canto esquerdo da sala, onde se encontrava o grande
armário que Cristofer usara para se esconder. O rapaz abrira as portas e
caminhava na direção do grupo de soldados.
- Parece que estamos com sorte –
falou o chefe. – O imbecil deve estar querendo se entregar.
- Que estúpido! O rei vai fazer picadinho
dele... – disse Dagoberto, fazendo os outros rirem.
Cristofer nada falou. Apenas
aproximou-se dos seguranças e colocou-se em posição de combate. Os homens se
entreolharam e pararam de rir. Ficaram surpresos ao serem desafiados daquela maneira.
- Rapaz, você é doido ou o quê? Não
está vendo a desvantagem numérica? Nós somos sete e você é apenas um... –
comentou o chefe.
O rapaz continuou em silêncio. O chefe
balançou a cabeça para os lados.
- Tudo bem, se é assim que você
quer... Rapazes, divirtam-se – falou o chefe, dando três passos para trás.
Meia dúzia de homens cercou
Cristofer. O chefe imaginou que seria divertido assistir seus seguranças,
fortemente armados, lutar contra o homem de mãos vazias. Quando a batalha
começou, o chefe mudou de opinião. Quem quer que fosse aquele lutador, estava
massacrando seus soldados. Em instantes derrubara três e estava vencendo com igual
facilidade os adversários restantes.
- Sua vez – disse Cristofer,
aproximando-se do chefe e colocando-se em posição de combate.
O chefe espantou-se. A julgar pela
voz, o rapaz era extremamente jovem. Deveria estar na casa dos vinte anos.
- Eu não vou lutar com você,
garoto. Sei que seria derrotado sem a menor dificuldade.
Cristofer saiu de sua posição de
combate.
- Tudo bem, não vou machucá-lo. Mas
fique onde está.
O chefe concordou com a cabeça.
Observou Cristofer aproximar-se dos homens que derrotara. Tirou seus trajes
pretos e vestiu o uniforme de um dos soldados.
- Por que está fazendo isso, filho?
Cristofer colocou o boné para
deixar a indumentária completa e olhou fixamente para o chefe.
- Eu não lhe devo satisfações,
senhor.
O chefe estudou o rapaz por alguns
instantes. Parecia um bom garoto, ao menos era bem educado. Respondera a ele de
forma arrogante, era verdade, mas, considerando a situação, não fora grosseiro.
Tinha um bom aspecto, o que sugeria vir de uma boa família.
- Talvez eu possa lhe ajudar. Por
que não me conta quais são os seus objetivos com esta empreitada?
Cristofer considerou a pergunta e
tomou uma decisão:
- Eu não posso lhe contar, mas
asseguro que não desejo fazer mal a ninguém. Você acredita em mim?
- Sim – respondeu o chefe.
- Então há algo que poderá fazer
para me ajudar.
O chefe esperou que Cristofer
prosseguisse.
- Preciso passar de um pavimento ao
outro com rapidez, sem levantar suspeitas. Imagino que cada andar deva ter um
grande número de soldados e todos eles devem se conhecer muito bem. Neste caso,
como transitar com segurança entre os pavimentos do castelo?
- Você tem razão. Mesmo de
uniforme, despertaria suspeitas se passasse próximo a um segurança. O que você
pode fazer é dizer que pertence ao sétimo andar e que tem um recado ao capitão
do chefe Alfredo.
O monge concordou com um balançar
de cabeça. Voltou ao armário que usara como esconderijo e pegou uma pequena
corda.
- Importa-se? – perguntou ao chefe.
O homem aproximou-se. Cristofer
amarrou as mãos do chefe em uma das colunas da sala. Em seguida, encaminhou-se
para a porta. Porém, antes de abri-la, olhou na direção de Alfredo.
- Obrigado – agradeceu Cristofer,
saindo da sala.
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