domingo, 12 de fevereiro de 2017

Capítulo 14

Cristofer havia passado por uma quantidade absurda de salas. A noite havia avançado e o monge, embora sempre em movimento, estava longe de conseguir esquadrinhar totalmente a residência do rei. Ainda tinha algum tempo até que amanhecesse. Antes que a luz do sol chegasse, o guerreiro sairia do castelo e iria para sua casa, aproveitar o dia de folga para descansar. Se não tivesse êxito em sua missão hoje, faria outra tentativa no próximo sábado.
Mas e se na próxima vez fosse tarde demais? E se Ana Clara viajasse, nos próximos dias, para o reino do príncipe com quem iria se casar? Não, não poderia pensar em tais coisas. Tinha objetivos a alcançar, era necessário manter o foco. Não iria perder as esperanças.
            O rapaz estacou. Passos. Alguém, acompanhado por mais pessoas, vinha em sua direção. Sem perder tempo, Cristofer abriu a primeira porta que encontrou e entrou rapidamente na sala, sem se preocupar em verificar se estava ocupada ou não. Como se encontrava ao final de um estreito corredor, sabia que, se ficasse ali, o confronto seria inevitável. Assim, entrou na sala sem preocupações. Ao menos em uma sala teria mais espaço para lutar. Mas a sala estava deserta, ao menos de pessoas. Alguns móveis estavam espalhados pelo local de maneira aleatória. A sala não parecia fazer muito sentido. Cristofer abriu as porta de um armário enorme, completamente vazio. Aquele era um esconderijo perfeito. Se os homens o encontrassem ali, então os enfrentaria. Caso contrário, apenas esperaria que deixassem o local para que pudesse continuar suas investigações. Pelas pequenas frestas das portas do armário, o monge observou os homens entrarem na sala. Eram seis, no total.
            - Qual é a situação, Adamastor?
            - Temos que esperar o chefe. Parece que algo importante está acontecendo hoje.
            - Você tem ideia do que seja?
            - Infelizmente não, Adelir. Mas o chefe disse que se reuniria rapidamente com o capitão e nos encontraria aqui para maiores informações.
            Algum tempo depois, a porta da sala foi aberta mais uma vez.
            - Chefe, quais são as novas?
            - O rei está furioso, rapazes – disse o homem, preocupado. – Parece que alguém está se aventurando no castelo
            - O quê? Está de brincadeira, chefe?
            - Não, Lindomar, não estou. Alguns soldados foram encontrados amarrados e amordaçados na sala de uniformes. Disseram que enfrentaram um exímio lutador, totalmente vestido de preto. Tal guerreiro os derrotou com facilidade incrível e os aprisionou na sala de uniformes.
            - Um guerreiro totalmente vestido de preto? Será que não...
            - Sei o que está pensando, Dagoberto. Mas não é um daqueles guerreiros do outro reino.
            - E como tem certeza, chefe?
            - Porque o rei Xavier logo foi acordado, ao descobrirmos os soldados amarrados. Ao saber do guerreiro de preto, o rei Xavier acordou o rei Sebastian e ambos foram verificar a situação. Todos os guerreiros do rei Sebastian estão no quarto onde deveriam passar a noite. Nenhum deles saiu, conforme falaram os seguranças que estavam próximos ao quarto.
            - Mas então quem será o louco que está andando por aí?
            - Quem quer que seja, Lindomar, despertou a ira do rei Xavier. O homem está furioso com o “turista noturno”, pois o está deixando em maus lençóis com o rei Sebastian.
            - Como assim, chefe?
            - Você não é muito inteligente, não é, Lindomar?
            - Não, senhor, eu não sou.
            - Pelo menos é sincero – disse o chefe com um suspiro. – Ao realizar a sua excursão, o nosso misterioso visitante está zombando do poder do rei Xavier. Consequentemente, sua imagem está prejudicada diante do rei Sebastian. Afinal, que tipo de rei é desafiado desse jeito? Talvez aquele rei que não saiba impor respeito em seus súditos...
            - Ah, entendi...
            - Seja como for, o rei Xavier está preocupado com a segurança da filha e do príncipe Karus. Mandou colocar quatro guardas em frente à porta de cada um dos dois quartos.
            - Chefe, os guardas amarrados foram os únicos a ter contato com o visitante?
            - É, eu ia chegar neste ponto, Dagoberto. O guerreiro de preto foi avistado no sexto andar, indo em direção à sala que dava acesso ao nosso andar. Isso não faz muito tempo.
            - Neste caso a princesa está segura, considerando que o quarto dela é no primeiro pavimento do castelo e o guerreiro se encontra talvez neste pavimento, onde já sabemos de sua existência e estamos nos concentrando em sua captura.
            - Eu não teria dito de melhor maneira, Dagoberto. Meu objetivo aqui é pedir a vocês para alertarem todos os seguranças deste pavimento. Eu seguirei para o próximo andar e transmitirei a mesma mensagem, a pedido do capitão.
            Um ruído chamou a atenção dos homens. Olharam para o canto esquerdo da sala, onde se encontrava o grande armário que Cristofer usara para se esconder. O rapaz abrira as portas e caminhava na direção do grupo de soldados.
            - Parece que estamos com sorte – falou o chefe. – O imbecil deve estar querendo se entregar.
            - Que estúpido! O rei vai fazer picadinho dele... – disse Dagoberto, fazendo os outros rirem.
            Cristofer nada falou. Apenas aproximou-se dos seguranças e colocou-se em posição de combate. Os homens se entreolharam e pararam de rir. Ficaram surpresos ao serem desafiados daquela maneira.
            - Rapaz, você é doido ou o quê? Não está vendo a desvantagem numérica? Nós somos sete e você é apenas um... – comentou o chefe.
            O rapaz continuou em silêncio. O chefe balançou a cabeça para os lados.
            - Tudo bem, se é assim que você quer... Rapazes, divirtam-se – falou o chefe, dando três passos para trás.
            Meia dúzia de homens cercou Cristofer. O chefe imaginou que seria divertido assistir seus seguranças, fortemente armados, lutar contra o homem de mãos vazias. Quando a batalha começou, o chefe mudou de opinião. Quem quer que fosse aquele lutador, estava massacrando seus soldados. Em instantes derrubara três e estava vencendo com igual facilidade os adversários restantes.
            - Sua vez – disse Cristofer, aproximando-se do chefe e colocando-se em posição de combate.
            O chefe espantou-se. A julgar pela voz, o rapaz era extremamente jovem. Deveria estar na casa dos vinte anos.
            - Eu não vou lutar com você, garoto. Sei que seria derrotado sem a menor dificuldade.
            Cristofer saiu de sua posição de combate.
            - Tudo bem, não vou machucá-lo. Mas fique onde está.
            O chefe concordou com a cabeça. Observou Cristofer aproximar-se dos homens que derrotara. Tirou seus trajes pretos e vestiu o uniforme de um dos soldados.
            - Por que está fazendo isso, filho?
            Cristofer colocou o boné para deixar a indumentária completa e olhou fixamente para o chefe.
            - Eu não lhe devo satisfações, senhor.
            O chefe estudou o rapaz por alguns instantes. Parecia um bom garoto, ao menos era bem educado. Respondera a ele de forma arrogante, era verdade, mas, considerando a situação, não fora grosseiro. Tinha um bom aspecto, o que sugeria vir de uma boa família.
            - Talvez eu possa lhe ajudar. Por que não me conta quais são os seus objetivos com esta empreitada?
            Cristofer considerou a pergunta e tomou uma decisão:
            - Eu não posso lhe contar, mas asseguro que não desejo fazer mal a ninguém. Você acredita em mim?
            - Sim – respondeu o chefe.
            - Então há algo que poderá fazer para me ajudar.
            O chefe esperou que Cristofer prosseguisse.
            - Preciso passar de um pavimento ao outro com rapidez, sem levantar suspeitas. Imagino que cada andar deva ter um grande número de soldados e todos eles devem se conhecer muito bem. Neste caso, como transitar com segurança entre os pavimentos do castelo?
            - Você tem razão. Mesmo de uniforme, despertaria suspeitas se passasse próximo a um segurança. O que você pode fazer é dizer que pertence ao sétimo andar e que tem um recado ao capitão do chefe Alfredo.
            O monge concordou com um balançar de cabeça. Voltou ao armário que usara como esconderijo e pegou uma pequena corda.
            - Importa-se? – perguntou ao chefe.
            O homem aproximou-se. Cristofer amarrou as mãos do chefe em uma das colunas da sala. Em seguida, encaminhou-se para a porta. Porém, antes de abri-la, olhou na direção de Alfredo.

            - Obrigado – agradeceu Cristofer, saindo da sala.

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