As semanas seguintes foram uma verdadeira explosão de felicidade na vida
da princesa. Encontrava-se com Cristofer todas as tardes de domingo. Ainda não levara
o rapaz à sua casa, dizia que estava se preparando para apresentá-lo a seus
pais. O monge, por sua vez, também não levara a moça à sua casa. O fato é que a
família de Cristofer era muito pobre e ele tinha receio que Ana o trocasse por
alguém que tivesse dinheiro. Dessa maneira, era melhor ter certeza de que nada
estragaria o seu relacionamento com a garota, antes de ir às apresentações.
Ana Clara pensava de forma parecida, mas com outra linha de raciocínio.
Para a garota, talvez fosse um choque para Cristofer descobrir que namorava a
princesa. Ela sabia que ele vinha de família humilde, pois nunca falava sobre
posse de terras, estabelecimentos comerciais ou qualquer outra coisa que denotasse
riqueza. Assim, era melhor não levá-lo ao castelo, ao menos por enquanto.
- Há uma livraria enorme não muito longe daqui. Gostaria de visitá-la? –
perguntou ao namorado, pois sabia que ele adorava a leitura.
- Com certeza. Quer ir agora?
- Claro, vamos – convidou a menina, puxando Cristofer pelo braço.
O casal levantou-se do banco da praça e começou
a andar em direção à livraria. Pouco tempo depois, encontravam-se no local. Ana
Clara aproximou-se de uma estante.
- Veja, Cris, estes livros são ótimos!
- Como são as histórias?
- Emocionantes. É aventura que não termina mais
– respondeu a garota, alcançando um exemplar para o namorado.
- A Trilogia de Bartimaeus: O Amuleto de
Samarcanda – leu o rapaz, em voz alta.
- É muito legal, Cris. Quando comecei a ler,
não quis mais parar. Trata-se de uma cidade governada por bruxos. Um menino de
cinco anos, chamado Natanael, é adotado por um feiticeiro. O homem inicia o
garoto no mundo da magia, como é de sua responsabilidade. Mas Natanael não
gosta de seu mestre porque ele é muito rude e o maltrata. O menino vai crescendo
e, lá pelos onze ou doze anos, decide invocar um demônio, com o objetivo de lhe
dar a seguinte tarefa: localizar e roubar o amuleto de Samarcanda que pertence
a um poderoso feiticeiro. Após o roubo, deve retornar a casa onde fora invocado
e esconder o objeto entre as coisas de seu mestre, camuflando-o com sua magia.
O demônio fica intrigado, pois não é incomum tentar incriminar outro mago.
Porém, incriminar o próprio mestre era algo, em sua opinião, inusitado. Mas
concorda com o plano porque...
- Ana, pare. Pedi
a você a sinopse, não a história toda – falou Cristofer, sorrindo.
- Ah...
- Amorzinho, eu estava só brincando. Sabe, você
me convenceu. Meus pais e eu frequentamos uma biblioteca. Os próximos livros
que vou ler serão estes. Teria outras indicações?
Ana Clara sorriu. Cris chamara sua atenção na
esportiva, preocupado em não magoá-la. Faria novos comentários, mas seria
cuidadosa a partir dali.
- Eu o amo muito.
- Esse livro é bom?
- Não, seu tonto, só estou expressando meus
sentimentos por você – disse a garota, abraçando o namorado.
Ana Clara e Cristofer haviam completado dois meses de namoro. A princesa
mal podia esperar para ver suas primas novamente. Desta vez, seriam elas que
ficariam surpresas. Contaria sobre o seu namoro com o monge, o rapaz que tanto
amava e que lhe trouxera uma grande felicidade. Inteligente, carinhoso e de
agradável aparência, reunia todas as qualidades para fazer uma garota feliz. E
a princesa estava muito, muito feliz...
- Em que está pensando? – perguntou o rapaz.
Ana Clara sorriu e respondeu:
- Já namoramos há dois meses. Eu ainda não tive coragem de apresentá-lo
aos meus pais e você também ainda não me apresentou aos seus. Quero que isso
mude, hoje.
- Sim, eu concordo com você – falou Cristofer, após um tempo. – Venho
pensando muito nisso nestes últimos dias e tomei a minha decisão: quero levá-la
à minha casa.
- Que bom, Cris. Adoraria conhecer seus pais.
- Na semana que vem, será que eu poderia conhecer os seus, Ana?
- Claro, meu amor. Vamos à sua casa hoje e, no próximo domingo, iremos à
minha.
O casal levantou-se do banco onde estava sentado e começou a caminhar.
Cristofer pagou um condutor de charretes para que os levassem até o seu bairro.
Como Ana Clara havia imaginado, o rapaz era muito pobre. As ruas eram estreitas
e abundantes de casas, construídas uma ao lado da outra, sem espaço para pátios
e calçadas. Não eram rebocadas nem pintadas. Além disso, o precário estado das
paredes, portas e janelas ajudava a deixar claro o nível de pobreza da região.
Ana Clara olhou, admirada, para aquele lugar atirado às traças. Nunca estivera
ali ou em outro lugar que aparentasse tanta pobreza. Olhou as ruas, sem qualquer
tipo de revestimento. Deve virar um barro terrível quando chove, pensou a
garota. Sentiu pena de Cristofer e das pessoas que moravam ali. Prometeu a si
mesma que, no dia em que se tornasse rainha, daria um jeito naquele lugar
miserável.
A princesa sorriu. Estava certa sobre Cristofer, afinal de contas. Ele
era pobre e tinha receio de levá-la em sua casa. Isso porque quando estava na
companhia dele embora usasse roupas de plebeia, eram sempre roupas novas,
demonstrando que tinha dinheiro. Como se não bastasse, o rapaz sabia que ela
morava próximo à praça, uma região de pessoas ricas, muito ricas.
- O que foi? – perguntou o monge, olhando expectativamente para a menina.
- Estou contente porque finalmente conhecerei seus pais.
Cristofer sentiu-se aliviado. Ana, pelo jeito, não se importava com a sua
pobreza.
O restante da tarde foi muito
agradável. A garota tomou chá e comeu alguns biscoitos oferecidos pelos pais de
Cristofer. Gostou muito de ambos, pois eram pessoas muito gentis. Tinham uma
conversa inteligente, a exemplo de Cristofer. Conversaram sobre muitas coisas,
mas o foco da conversa foi literatura. Ana Clara gostou de saber que tanto
Cristofer quanto seus pais eram clientes assíduos da biblioteca mais próxima de
sua casa. Para a surpresa da garota, fizeram uma lista de títulos que uma
menina da idade dela gostaria de ler. A princesa agradeceu a lista e colocou-a
no bolso, prometendo que seriam os próximos livros que iria ler.
Ainda faltava algum tempo para que ocorresse o pôr-do-sol, mas Cristofer
achou melhor levar a namorada à praça, antes que escurecesse.
- Fico contente que tenha gostado dos meus pais, Ana. É um peso que sai da
minha cabeça.
- E por que não gostaria, querido? O s dois são adoráveis!
Cristofer sorriu com o comentário.
- No próximo domingo, é a sua vez de me mostrar onde mora.
- Combinando - respondeu a princesa, abraçando-o e beijando-o apaixonadamente.
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