domingo, 12 de fevereiro de 2017

Capítulo 8

Cristofer acordou com os primeiros raios de sol batendo em seu rosto. Sua casa ficava no topo da lomba mais alta da vila e o seu quarto no segundo pavimento. A casa era bem estreita, por esse motivo tinha que ter dois andares para acomodar a família toda, o rapaz e seus pais. No andar de baixo ficava a cozinha, que também servia de sala, o sanitário e o quarto dos pais; no andar de cima só havia o seu quarto. O pátio era estreito e curto, e sua casa não tinha área e nem calçada, mas era sua casa, seu lar, e Cristofer valorizava o esforço de seus pais em construí-la.
            O monge levantou-se, foi até o sanitário banhar-se e colocar roupas limpas. Ao sair, encontrou seus pais na cozinha.
            - Bom-dia, mãe. Tudo bem, pai?
            - Bom-dia – responderam os dois, sorrindo.
            - Hoje será um grande dia para a cidade, não?
            - É verdade, filho. O noivado na praça está dando o que falar – respondeu a mãe. – As pessoas só comentam isso. Ontem seu pai e eu fomos à feira comprar mantimentos e as pessoas só sabiam falar da tal princesa.
            - Qual será o nome dela?
            - Boa pergunta, Cris – respondeu o pai. - Mas não creio que isso importe. Afinal, o nosso mundo é tão diferente do mundo dela que seria impossível para nós conhecê-la.
            - O senhor está enganado, pai. O evento será na praça e qualquer pessoa poderá participar da festa. Se quiserem conhecer a princesa, aí está a oportunidade.
            - É, tem razão, filho – falou o homem, após algum tempo.
            - Que tal a gente ir, querido? – perguntou a mulher ao marido.
            - Acho que será legal levar a mãe ao evento, pai.
            O homem concordou com um sorriso.
            - A que horas você irá, Cris?
            - Ah, logo após o almoço, pai.
            - Mas o noivado não é no meio da tarde?
            - Sim, mas quero chegar cedo.
            - Vai se encontrar com a Ana lá, Cris? – perguntou a mãe.
            - É claro – respondeu o rapaz, forçando um sorriso. Seus pais ainda não sabiam do que havia acontecido entre ele e Ana Clara.
             O restante da manhã transcorreu tranquilamente. Cristofer ajudou seus pais limpando o pátio. Em seguida, buscou os mantimentos que eles ainda precisavam para passar a semana.
              - É muito bom ter um filho forte como um touro – falou o pai à mesa, na hora do almoço. – Sua mãe e eu não conseguimos trazer nem a metade do que você trouxe sozinho.
              - Ah, isso não é nada, pai. O senhor sabe que pode contar sempre comigo.
              - Isso significa muito para nós, Cris, pode acreditar. Acredite também quando lhe digo que você é o nosso filho preferido.
              - Será que isso acontece porque ele é o nosso único filho?
               Os três riram gostosamente. O almoço continuou em ritmo de alegria. Cristofer adorava os seus pais. Eram sempre muito bons para ele, e o rapaz não media esforços para retribuir.
               - Bem, acho que já vou indo. Quer ajuda com a louça, mãe?
               - Não, filho, pode deixar. Você queria chegar cedo, então aproveite.
               - Tudo bem – respondeu o rapaz, abraçando os pais.
                Cristofer dirigiu-se à praça. Não imaginou que àquela hora já haveria tantas pessoas. Bem, o evento é importantíssimo, pensou. Mas o fato é que se tão cedo havia tanta gente, então na hora da comemoração haveria muito mais pessoas e seria difícil localizar Ana. Decidiu que a melhor tática para localizar a garota seria andar pela praça toda sem parar, a partir daquele momento, pois cada vez mais pessoas chegavam de todas as direções.
                O tempo foi passando e o monge continuava em movimento. Transitava entre a multidão, alerta, mas Ana ainda não aparecera. Todavia, era praticamente certo que a garota iria comparecer ao evento. Ela morava em uma zona de gente rica e jamais faria tal desfeita à princesa.
                 Imerso em profundos pensamentos, o monge demorou um pouco a ouvir a voz de alguns guardas que pediam à multidão para abrir caminho. Virou-se e olhou na direção das vozes: duas filas de guardas, cada fila formada por doze homens, avançavam em direção ao centro da praça, onde estava o palco em que ocorreria o noivado da princesa. Entre as duas filas, dois homens fortes conduziam uma liteira.
                 A curiosidade do monge falou alto. Decidiu acompanhar a procissão de guardas, pois queria ver a princesa. Chegando ao palco, os homens largaram a liteira.
                 - Senhoras e senhores, apresento-lhes o príncipe de Zamora – falou um dos guardas, em alta voz.
                 O rapaz saiu da liteira sob aplausos. Imediatamente, seu transporte foi colocado em um dos cantos do palco. Mais liteiras chegaram de outras direções.
                 - Senhoras e senhores, apresento-lhes o pai do príncipe, o rei Sebastian.                 
                 - Senhoras e senhores, agora se faz presente entre nós o nosso amado rei Xavier e a rainha Tamara – falou o soldado, após a chegada de duas liteiras ao palco.
                 Cristofer ficou na expectativa, pois a próxima liteira a chegar ao palco seria a da princesa.
                  - Senhoras e senhores, agora chegou a vez de aplaudir a princesa...  
                  O queixo de Cristofer caiu. Era loucura, não podia ser verdade, simplesmente não podia... Tinha que ser um pesadelo. Talvez logo acordasse e visse que tudo não passava de um sonho. Mas o rapaz sabia que não poderia se iludir. À sua frente estava aquela por quem tanto procurara, mas não fazia a menor ideia de que era ali, no palco, que iria encontrar. O monge nunca imaginou que veria dessa forma a princesa...
                  -... Ana Clara – disse o guarda, estendendo um braço na direção da princesa.
                   O príncipe Karus, o rei Sebastian, o rei Xavier e a rainha Tamara eram só sorrisos. A princesa, entretanto, mantinha um olhar distraído, com o objetivo de mascarar a tristeza que rasgava o seu coração. Olhou para a multidão sem prestar muita atenção nos rostos que a fitavam. Mas quando alguém forçou passagem entre a multidão, aproximou-se da borda do palco e falou seu nome em voz alta, a garota mirou o olhar na pessoa.

                  Ana Clara estava apenas a dois passos de Cristofer. Olhou para o rapaz e ficou pálida. Ele estava ali, bem à sua frente. Não contara que era a princesa; não falara que não poderia continuar o namoro com ele; nada dissera sobre o noivado com o príncipe Karus; e agora ele estava ali, olhando-a fixamente. Os olhos de Cristofer encontraram os de Ana. Lágrimas escorreram pelo rosto do rapaz. Arrasado, virou-se e foi embora.

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