Cristofer acordou com os primeiros raios de sol batendo em seu rosto. Sua
casa ficava no topo da lomba mais alta da vila e o seu quarto no segundo
pavimento. A casa era bem estreita, por esse motivo tinha que ter dois andares
para acomodar a família toda, o rapaz e seus pais. No andar de baixo ficava a
cozinha, que também servia de sala, o sanitário e o quarto dos pais; no andar
de cima só havia o seu quarto. O pátio era estreito e curto, e sua casa não
tinha área e nem calçada, mas era sua casa, seu lar, e Cristofer valorizava o
esforço de seus pais em construí-la.
O monge levantou-se, foi até o
sanitário banhar-se e colocar roupas limpas. Ao sair, encontrou seus pais na
cozinha.
- Bom-dia, mãe. Tudo bem, pai?
- Bom-dia – responderam os dois,
sorrindo.
- Hoje será um grande dia para a
cidade, não?
- É verdade, filho. O noivado na
praça está dando o que falar – respondeu a mãe. – As pessoas só comentam isso.
Ontem seu pai e eu fomos à feira comprar mantimentos e as pessoas só sabiam
falar da tal princesa.
- Qual será o nome dela?
- Boa pergunta, Cris – respondeu o
pai. - Mas não creio que isso importe. Afinal, o nosso mundo é tão diferente do
mundo dela que seria impossível para nós conhecê-la.
- O senhor está enganado, pai. O
evento será na praça e qualquer pessoa poderá participar da festa. Se quiserem
conhecer a princesa, aí está a oportunidade.
- É, tem razão, filho – falou o
homem, após algum tempo.
- Que tal a gente ir, querido? –
perguntou a mulher ao marido.
- Acho que será legal levar a mãe ao
evento, pai.
O homem concordou com um sorriso.
- A que horas você irá, Cris?
- Ah, logo após o almoço, pai.
- Mas o noivado não é no meio da
tarde?
- Sim, mas quero chegar cedo.
- Vai se encontrar com a Ana lá,
Cris? – perguntou a mãe.
- É claro – respondeu o rapaz,
forçando um sorriso. Seus pais ainda não sabiam do que havia acontecido entre
ele e Ana Clara.
O restante da manhã transcorreu
tranquilamente. Cristofer ajudou seus pais limpando o pátio. Em seguida, buscou
os mantimentos que eles ainda precisavam para passar a semana.
- É muito bom ter um filho forte
como um touro – falou o pai à mesa, na hora do almoço. – Sua mãe e eu não
conseguimos trazer nem a metade do que você trouxe sozinho.
- Ah, isso não é nada, pai. O
senhor sabe que pode contar sempre comigo.
- Isso significa muito para nós,
Cris, pode acreditar. Acredite também quando lhe digo que você é o nosso filho
preferido.
- Será que isso acontece porque
ele é o nosso único filho?
Os três riram gostosamente. O
almoço continuou em ritmo de alegria. Cristofer adorava os seus pais. Eram
sempre muito bons para ele, e o rapaz não media esforços para retribuir.
- Bem, acho que já vou indo.
Quer ajuda com a louça, mãe?
- Não, filho, pode deixar. Você
queria chegar cedo, então aproveite.
- Tudo bem – respondeu o rapaz,
abraçando os pais.
Cristofer dirigiu-se à praça. Não
imaginou que àquela hora já haveria tantas pessoas. Bem, o evento é
importantíssimo, pensou. Mas o fato é que se tão cedo havia tanta gente, então
na hora da comemoração haveria muito mais pessoas e seria difícil localizar Ana.
Decidiu que a melhor tática para localizar a garota seria andar pela praça toda
sem parar, a partir daquele momento, pois cada vez mais pessoas chegavam de
todas as direções.
O tempo foi passando e o monge
continuava em movimento. Transitava entre a multidão, alerta, mas Ana ainda não
aparecera. Todavia, era praticamente certo que a garota iria comparecer ao
evento. Ela morava em uma zona de gente rica e jamais faria tal desfeita à
princesa.
Imerso em profundos
pensamentos, o monge demorou um pouco a ouvir a voz de alguns guardas que
pediam à multidão para abrir caminho. Virou-se e olhou na direção das vozes:
duas filas de guardas, cada fila formada por doze homens, avançavam em direção
ao centro da praça, onde estava o palco em que ocorreria o noivado da princesa.
Entre as duas filas, dois homens fortes conduziam uma liteira.
A curiosidade do monge falou
alto. Decidiu acompanhar a procissão de guardas, pois queria ver a princesa.
Chegando ao palco, os homens largaram a liteira.
- Senhoras e senhores,
apresento-lhes o príncipe de Zamora – falou um dos guardas, em alta voz.
O rapaz saiu da liteira sob
aplausos. Imediatamente, seu transporte foi colocado em um dos cantos do palco.
Mais liteiras chegaram de outras direções.
- Senhoras e senhores,
apresento-lhes o pai do príncipe, o rei Sebastian.
- Senhoras e senhores, agora
se faz presente entre nós o nosso amado rei Xavier e a rainha Tamara – falou o
soldado, após a chegada de duas liteiras ao palco.
Cristofer ficou na
expectativa, pois a próxima liteira a chegar ao palco seria a da princesa.
- Senhoras e senhores, agora
chegou a vez de aplaudir a princesa...
O queixo de Cristofer caiu.
Era loucura, não podia ser verdade, simplesmente não podia... Tinha que ser um
pesadelo. Talvez logo acordasse e visse que tudo não passava de um sonho. Mas o
rapaz sabia que não poderia se iludir. À sua frente estava aquela por quem
tanto procurara, mas não fazia a menor ideia de que era ali, no palco, que iria
encontrar. O monge nunca imaginou que veria dessa forma a princesa...
-... Ana Clara – disse o guarda,
estendendo um braço na direção da princesa.
O príncipe Karus, o rei
Sebastian, o rei Xavier e a rainha Tamara eram só sorrisos. A princesa,
entretanto, mantinha um olhar distraído, com o objetivo de mascarar a tristeza
que rasgava o seu coração. Olhou para a multidão sem prestar muita atenção nos
rostos que a fitavam. Mas quando alguém forçou passagem entre a multidão,
aproximou-se da borda do palco e falou seu nome em voz alta, a garota mirou o
olhar na pessoa.
Ana Clara estava apenas a
dois passos de Cristofer. Olhou para o rapaz e ficou pálida. Ele estava ali,
bem à sua frente. Não contara que era a princesa; não falara que não poderia
continuar o namoro com ele; nada dissera sobre o noivado com o príncipe Karus;
e agora ele estava ali, olhando-a fixamente. Os olhos de Cristofer encontraram
os de Ana. Lágrimas escorreram pelo rosto do rapaz. Arrasado, virou-se e foi
embora.
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