Sexta-feira, 19 de agosto. Júlia estava em
casa com o seu marido. Era manhã, as meninas se encontravam na escola. O
celular de Júlia tocou.
..........- Alô,
Luciana, como vai?
..........- Olá, Júlia.
Eu estou ótima. E você?
..........- Muito bem,
obrigada. Como foi a viagem?
..........- Estava
sensacional. Eu fui uma das organizadoras da conferência, cujo palestrante foi
Divaldo Pereira Franco.
..........- E a
palestra foi boa?
..........- Está
brincando comigo, Júlia? Divaldo é espetacular. Conseguiu prender a atenção de
todos por 90 minutos.
..........- Nossa,
conseguir segurar um público por uma hora e meia é muita coisa. Mas fale aí,
Luciana, quando virá nos visitar.
..........- Bem,
cheguei em casa hoje. Estou organizando muitas coisas aqui, mas pela tardinha
terei terminado. O que acha se eu chegar aí por volta das 20h, amiga?
..........- Está ótimo.
Venha jantar conosco, então.
..........- Combinado.
Até à noite, Júlia. Beijos.
..........- Até lá.
Beijos.
..........- Então a sua
amiga virá hoje à noite. Isso é muito bom.
..........- Também
acho, querido. Já estamos aqui há dois meses e esta será a nossa primeira
visita.
..........- Isso porque
os nossos vizinhos são estranhos. Desde que chegamos aqui, tentamos fazer a
amizade com os mais próximos à nossa casa, mas eles não abrem a porta ao verem
que somos nós.
..........- Esta cidade
é diferente da nossa, querido. As pessoas gostam de viver isoladas neste lugar.
..........Rodrigues
ficou pensativo. Após o episódio da bagunça no quarto de Tassiane, o homem
sugeriu que conseguissem um psicólogo para a filha. Júlia recusava a ideia de
um psicólogo, receosa de que ele pudesse indicar um psiquiatra. Por esse
motivo, jogava a culpa na casa. Quando quis comentar com a mulher que a menina
agia assim porque sentia falta de seus amigos e queria, portanto, voltar para
Uruguaiana, a mulher o questionou sobre o porquê dela não ter feito isso na
casa que haviam alugado. Ficaram vários meses ali sem qualquer incidente. Na
casa nova, porém, bastou três semanas para que coisas ruins começassem a
acontecer. A lógica de Júlia o desarmara, pensou Rodrigues, infeliz. Mas
continuaria procurando motivos para levar a filha a um psicólogo.
..........- A janta
estava ótima, Júlia. Você sempre foi uma excelente cozinheira – elogiou
Luciana.
..........Júlia sorriu.
Sentia-se feliz com a presença da amiga em sua casa. Rodrigues também estava
satisfeito. Provara que o fato de ninguém querer entrar em sua casa não
passava de coincidências. Os homens que o ajudaram na mudança estiveram no
interior do casarão. E agora a amiga de Júlia também se encontrava ali. Não
havia nada de errado com a casa, como Júlia e Tassiane afirmavam. O estranho é
que, em alguns momentos, até ele achou que tivesse alguma coisa esquisita em
sua residência. Mas sabia que estava errado. Júlia e Tassiane também estavam.
..........- Que tal
irmos para a sala? – convidou Rodrigues.
..........Todos dirigiam-se à sala. Luciana sentou-se no sofá que
tinha dois lugares, com Maria Alice ao seu lado. Rodrigues, Júlia e Tassiane
ocuparam o sofá de três lugares. Luciana continuou a narrar casos bem
interessantes. Sendo ela espírita, sabia de muitas histórias e tivera
participações em várias outras.
..........Em
determinado momento, Luciana parou de falar e fixou o olhar em Tassiane.
Rodrigues e sua família se entreolharam em silêncio. Olhavam para Luciana, que
mantinha seu olhar fixo em Tassiane, sem dizer uma única palavra.
..........- Há uma
presença nesta casa – falou a mulher de repente, olhando para Júlia. – É uma
presença maligna. E você sabe. Você também sentiu – disse, voltando a olhar
para Tassiane.
..........- Luciana,
por favor, está assustando as crianças – alertou Rodrigues.
..........Luciana
levantou a mão, indicando ao homem que fizesse silêncio.
..........- Há um
perigo muito grande aqui – falou, levantando-se. Os outros também se colocaram
em pé. - Coisas
muito ruins aconteceram nesta residência – disse a mulher, subindo a escada. Os
outros a seguiram.
..........Luciana
chegou ao quarto de Tassiane.
..........- Coisas
horríveis aconteceram no porão desta casa. Mas a pior coisa que houve, ocorreu
neste quarto.
..........Luciana
começou a se sentir mal. Escorou-se na parede, para evitar cair no chão. Sentia-se
fraca.
..........- Tenho que
sair daqui – disse a mulher, sendo amparada por Júlia. - Devo sair agora desta
casa. O que quer que exista aqui é maligno e forte demais. Não sei se pode ser
enfrentado.
..........Júlia ajudou
a amiga a chegar à porta da frente. Luciana saiu para a área e sentiu-se um
pouco melhor.
..........- Vocês
correm perigo aqui. Um grande perigo. Principalmente você – disse a mulher,
olhando para Tassiane. Saiam enquanto podem.
..........Luciana
virou-se e correu. Saiu da casa como se tivesse fugindo de um predador. Rodrigues
e sua família ficaram estacados na área, perplexos, observando a mulher entrar
no carro e partir sem a menor cerimônia.
..........- Que mulher
maluca! – falou Rodrigues, quebrando o silêncio.
..........Tassiane
olhou para o seu pai. Sentia-se frustrada com o seu ceticismo. Desta vez, nem
tentou discutir. Sabia que não adiantaria. Virou-se e começou a andar.
..........- Tassi,
aonde você vai? – perguntou a mulher, tentando entender o que Luciana dissera.
..........Tassiane
virou-se.
..........- Vou para o
meu quarto, mãe. Você e o pai já devem ter percebido que é bem seguro por lá...
..........- Filha...
..........- Deixe-a.
Não alimente suas fantasias sobrenaturais.
..........Júlia ficou
sem saber o que fazer. Nunca acreditara em nada e não pretendia começar agora.
Luciana e Tassiane pareciam convictas do que diziam. Porém, ela, Maria Alice e
o marido não tinham visto nada de anormal.
..........- Venha,
querida, eu a ajudo com a louça. E, você mocinha, para a cama.
..........- Mas, pai,
hoje é sexta-feira – falou Maria Alice.
..........- E daí?
..........- Daí que
amanhã eu não vou ter aula.
..........- Não
importa. Vá para o quarto agora.
..........Júlia e o
marido dirigiam-se à cozinha. Em instantes, tudo estava limpo e organizado.
Logo estavam no quarto.
..........- Parece
pensativa, meu bem.
..........- Você não acredita mesmo na Luciana, não é?
..........- Você não acredita mesmo na Luciana, não é?
..........- Júlia, a
Luciana é pirada. Você não viu o que ela fez
..........Rodrigues suspirou e prosseguiu:
..........- Querida, quem, em sã consciência, vai interromper uma conversa para começar a falar um monte de asneiras e, em seguida, sair correndo da casa que está visitando, como se estivesse sendo perseguido por um assassino?
..........Rodrigues suspirou e prosseguiu:
..........- Querida, quem, em sã consciência, vai interromper uma conversa para começar a falar um monte de asneiras e, em seguida, sair correndo da casa que está visitando, como se estivesse sendo perseguido por um assassino?
..........- Tudo bem,
tudo tem uma explicação científica, certo?
..........- Certo.
..........- Então
explique como ela sabia que Tassiane tinha sentido algo estranho nesta casa e
como foi direto ao quarto dela, dizendo que ali algo muito ruim tinha
acontecido.
..........- Talvez você
tenha dito algo a Luciana e ela deduziu a história.
..........- Eu não
disse nada.
..........- Talvez ela
tenha inventado e acertou na mosca.
..........- Improvável.
As chances disso acontecer seriam a de uma em um milhão.
..........- Tudo bem.
Vamos fazer assim: você, eu e a Alice não vimos nada de anormal, certo?
..........- Certo.
..........- Luciana
falou que algo horrível aconteceu no quarto ocupado por Tassiane, é isso?
..........- Sim.
..........- Bem, se
isso for verdade, então explica o porquê de apenas Tassiane ter visto algo.
Assim, vamos mudá-la de quarto e tudo será resolvido, está bem?
..........- Tudo bem, acho que vale a pena tentarmos – concordou a mulher.
..........- Tudo bem, acho que vale a pena tentarmos – concordou a mulher.
..........Tassiane
estava em seu quarto. Terminara de ler “As Crônicas de Nárnia” e agora lia “O
Jardim da meia-noite”, de Philippa Pearce. O livro não era volumoso, pensou a
menina. Logo retornaria à biblioteca para trocá-lo.
..........Alguns
minutos depois, sentiu vontade de ir ao banheiro. Posicionou o marcador de
página no livro, fechou-o e colocou-o sobre a cômoda. A casa tinha dois
banheiros, um em cada pavimento. Tassiane começou a caminhar pelo corredor e
logo entrou à direita. Ao entrar no outro corredor, a garota viu que Maria
Alice estava caminhando à sua frente, quase alcançando o sanitário.
..........- Alice –
falou Tassiane, em voz alta, abanando para a irmãzinha.
..........Maria Alice
parou, olhou na direção da irmã e entrou no banheiro. Tassiane estranhou a
irmã. Correu até o banheiro e ficou na porta, olhando para a menina que estava
em pé, de costas para ela.
..........- Alice?
..........- O que foi?
..........Tassiane
olhou para a esquerda. Maria Alice estava no corredor, a vários metros do
banheiro. Voltou a olhar para dentro do banheiro, e a menina que estava parada
havia sumido. Tassiane arrepiou-se. Saiu correndo dali, pegou a irmãzinha pelo
braço, puxando-a com força.
..........- O que foi?
– perguntou a garotinha, confusa.
..........- Corre –
respondeu Tassiane, levando Maria Alice para o seu quarto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário